terça-feira, 29 de dezembro de 2015

Eu vou pra Maracangalha

O Hubbles detectou uma Supernova lá pros lados de uma constelação bacana.
Já batizei de Maracangalha. Tem uma cara simpática e “Supernova” já convida, visto que a Terra deste sol, aqui, está com os dias contados.
Já pensou poder ir para Maracangalha de chapéu de palha. James Taylor ia topar na hora: “just get my rubber sandals my straw hat”.
Volta às origens, um belo do básico e uma tranquilidade de nada a desejar sem folego. Que tal? Tudo novo, gente nova. Gente não fazendo tudo de novo.
Mundos habitados? Creio que sim. Aceita-se refugiados? Espero que sim.
Partiu?


sábado, 19 de dezembro de 2015

Brand new

Everything, with the passage of time, becomes new, not old.
Stars, the moon, days resemble rotine, but are really, fresh new. There’s novelty all the time in minutes, in seconds, in time.
Feelings seem to be tired, ancient, but sparkle from a new angle when they’re closed observed.
People, frequently, introduce themselves with the same name, seem to be old friends, but rather, they’re others, they’re new.
Coming and going to the job, steps, behavior, and deeds are repeated again and again, but only on the surface, it’s new, deep inside. Everything with the passage of time is always, brand new.
Nevertheless, it’s need not to be tired or hopeless. It’s need not to rock the boat. Not to cry over the spilt milk. Go shopping, picking up inside each person, each response, each time of year, each check in.
Purchase, look into, and stare at. It’ll be very easy, you’ll find, to see a new glow, a new adornment and a new response.
And do not give that: “not teach an old dog new trick”.





Tentativa de edição

O gosto das palavras saltando da boca, azedas, doces, amargas, salgadas. Palavras que precisam ser editadas e algumas que carecem de sair ao vivo sem cortes.
A edição de um íntimo talentoso é do que estamos à procura. Saímos à busca de um editor amigo, que reconheça um potencial adormecido. Fiamo-nos com fervor no nosso self. Levamos a público todo nosso interessante in.
Lançamos mil palavras, muitas selfs no FACE e damos a cara à tapa. A espera que alguém nos compreenda e elogios surjam. Adeptos comprem nossa ideia e que muitos seguidores nos sigam. Muita fala, muita exibição, mas ninguém quer publicar nosso âmago engenhoso.
Nosso texto foi pro lixo. Os editores, hoje em dia, não são de confiança.
Agora, lá se vai nossa confiança. O melhor é dizer não a toda essa veia poética. Nada de caneta em riste, rascunhos e depois Word. Nada de curtir e compartilhar.
Boquiabertos, sem mais delongas, ficamos mudos.

                    

terça-feira, 17 de novembro de 2015

Françoise ou Maria

Que dor é essa. Qual dói mais. Quisera não doesse assim.
Quisera apartá-la pros polos do planeta, e lá, onde só há água e gelo não doesse nada. Sem coração, artérias ou músculos, uma ferida de qualquer natureza não feriria. Qualquer dor não doeria.
Mas, tal senhora encontra sempre um coração acompanhado de todo sistema nervoso e periferia. Mesmo porque, de um polo a outro, principalmente no meio, se aglomera gente, donos de corações. E é aí que ela age, ou seguindo leis, ou vestindo-se de covardia.
Assim quais os mais pungentes ais, os de Françoise ou de Maria?
O ferro cortante encravado na carne, estilhaçado ou derramado dói no peito de gente.

Quisera que a dor escolhesse outro alvo, mas, substantivo abstrato dependendo do homem pra ser, pra fazer, quem escolhe é a gente.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Angélique e sua bicicleta

Noite escura demais. Dia sombrio, o inferno era ali.
Um coração feminino que não mais era. Nenhuma lágrima sobre os panos.
Uma dor de cortar.
 Levemente, de repente, se insinua um zumbido de vento por entre aros.
O som que faz a mulher estremecer. Onde, antes, não havia arfar, horrorizar nem agonizar, agora brotava o esperar.
O acorde da harpa silenciou.
 Angélique pairou, cuidou, curou e um coração feminino voltou a ser.

Homenagem a Angélique Namaika

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Elas por elas

Espartilhos. Rouge. Vestido bem cintado. Negociável, só a opressão.
Batom. Cílios longos. Salto alto. E pernas pra que te quero.
Mundo ganho. Voou, pilotou, velejou, construiu, musicou, governou.
Críticas e vaias, nariz empinado e peito pra frente.
O cabresto se insinuando, e daí, não é com esta gente.
Ainda que haja choro ainda, haverá ranger de dentes.
E lá vão elas.


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Dupla vista

“Tudo é uma ilusão”. Constatou o etílico, depois de ver muita coisa em duplicidade.
Uma dupla esquina. Uma dupla de amigos. Uma dupla solidão. Uma jogada dupla. Um duplo fracasso. E um dublê de si mesmo. Seu duplo não vomitava, nem chorava. Seu duplo estava sóbrio e distinguia bem uma saída. Traçava planos com rapidez e os tinha duplos. Para o caso do tão necessário plano B.
O ébrio, cheio de esperanças, olhava sua cópia nos olhos com muita atenção. Prestigiava os gestos do tal, e principalmente, ouvia, distintamente, seus argumentos. Ficou pasmo com tanta precisão. Era tudo que ele precisava ouvir.
 Um contentamento tamanho lhe brotou no peito. Ajeitou-se, aprumou-se.  Desejou, ardentemente, ser o outro.
 Fechou os olhos para realizar seu desejo. Tudo rodopiou dentro dele. A esquina, os amigos, a solidão, a jogada, o fracasso e seu duplo giraram e se misturaram como num caldeirão.
Abriu os olhos e a poção o havia transformado. Era ele mesmo, não tão espirituoso, não mais descolado, ainda não sóbrio, mas completamente lúcido.
Num golpe de dupla vista distinguiu o que queria e viria a ser e não, necessariamente, permaneceria “tudo ilusão”.

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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Duas lembranças

“Peguei duas” confessei para o terapeuta. Mas não a dedo e sim no tato. Acho que havia muito espaço em branco, ou, talvez, muito apinhado, não consegui distinguir.
Lembro-me de quando deixei essas duas enterradas em algum lugar da cabeça, era para não saírem mais. Mas veja só, aqui estão.
São boas, muito boas mesmo.
Se não emudecesse as lembranças não estaria aqui? Sério, tem certeza?
 Parar, refletir, lembrar no hoje, onde o agora de cinco minutos atrás já é passado, e cinco à frente é o futuro, não dá pra ativar memórias.  É um “ironman” do pensamento.
A conclusão? É você que vai me dar, não? Não, sou eu?
Duas memórias amargas que podem se transformar em sweet things, bem sei.

Vamos ver se dá. 

terça-feira, 20 de outubro de 2015

Sob medida.


“Acho que a roupa não combina com a idade dela, o que você acha”?
“Acho que ele emagreceu demais, ficou feia”.
“Não é assim que se faz, está tudo errado”.
“Se fosse num país sério”...
“Isso não é amor é acomodação-dependência, não pode dar certo”.
“Não melhora nunca, não tem jeito”.
“Eu jamais faria isso”.
“Deveria ter feito assim”.
“Se enganou, como sempre”.

“Mas que filho da...”

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Instrumental


Diziam que ela falava demais. Cansou-se da mão de obra e com a escassez de matéria prima, emudeceu. Pegou um atalho, mas persistiu no beating.
Primeiro a percussão, as cordas, depois os metais e o sopro. E ia levitando estrada a fora, só no ritmo.
Quando perguntavam “e a velha flama”? Dizia que preferia ouvir.
Ouviu de tudo e mais um pouco. Tambores rufando o descaso. Estancava, às vezes, perplexa com as cordas armadas por sobre cadafalsos, à espreita.  Metais afinados prontos para alguma ferida. As flautas e trompetes anunciando tempestade, pegava só de ouvido.

E ela continuava no acorde. Sem palavras, sem canseira. Sem jargão apropriado, com tempo de sobra para fluidificar.  Não mais precisaria da esgrima da língua afiada. Era só deixar o som entrar dando seu recado. –“Instrumental demais, e daí”?

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Sabe lá.

 Pensa-se não haver nada para dar. Que nada, sempre há.
Cozinhar, costurar, pintar, falar, pairar, cantar, todas são coisas para dar.
“Ter que ter para dar”?  – “Hum, sei lá”.
Conjeturas mil, e as obras? Todas num canto, engavetadas. As mãos paradas.
Reclamações acirradas. Bandeiras empunhadas. Mas as ações? Que nada.
“Levar jeito pra coisa”? Nem é preciso. Preciso é ter coragem.
Coragem para mexer-se, desafiar-se, remexer por dentro e encontrar um quê.
E remexer, remexer coração, pensamento, até que encontre.

 Sabe lá?

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Ensolarado

Pegou do pão amanhecido e serviu-se à mesa. Descontente e acabrunhado.
Sem ideias para aquela manhã, com fastio para o almoço e nenhum feliz futuro para a noite de lua nova.
Olhava em volta e os fatos estavam todos desfocados. Revirava o cérebro na vã tentativa de entender-se e desistia.
Sua cabeça de tão oca, deixava-lhe ouvir o sonar de seu coração emitindo batidas do código Morse.
Pegou da camisa estirada nas costas da cadeira, surrada e batida de tanto tê-lo sentado.
E, então, bateu-lhe uma vontade louca de singrar os sete mares. De deixar para trás as profundezas inóspitas. Abandonar o navio e num bote de um remo só, e sem enjoar, enfrentar a maresia.

Abriu a porta e deparou-se com o dia. Radiante, convidativo, empático, ensolarado.

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Solilóquio

Eu quero que meu coração fique a esmo, mesmo.
Quero que continue batendo de porta em porta e nas paredes, até não aguentar.
Eu quero que meu coração permaneça ébrio, sem internação.
Não quero que ele se faça de tolo.
Não quero que ele se renda a mais nenhuma risada.
Quero que meu coração providencie uns não, por dentro, para dar como troco, para os que vierem de fora.
Não quero que amoleça. Não quero que endureça.
Não quero que sucumba pasmo, a mais nenhum dolo eventual.
Quero que meu coração esteja, para sempre, simples e ignorante.

Eu quero... Eu não quero... Eu quero...

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Por quê?

Mil porquês surgem, ressurgem, incomodam, cutucam, se espremem, gemem e finalmente esperam.
Você os engana com respostas breves e frágeis. Fundamentadas em fumaça de gelo seco. Eles insistem e você sai ás pressas, oferecendo seu twitter.
Nada de ligações emocionais, de dependência afetiva. Sua vida e mil porquês, não poderia dar certo. O dia continua o tempo não espera e você tem muito que fazer.
Sobe ao palco, confere o cenário, repassa as falas e está tudo certo.
 Vez por outra, entre um ato e outro, um por que te pega de jeito.
Você não tem como se defender. Sem cacos, sem texto adaptado, tem que responder.
Sobe o cenário, você troca de roupa e te empurram pra última parte.
Com todos te olhando, o por que te esperando e você, e você...
“Merda” não te trouxe sorte. Lá está você, cara a cara com mil caras que também querem saber o porquê, e você, e você...



terça-feira, 29 de setembro de 2015

Epílogo

Descerrou. Fim do ato. Nenhum som. Só o eco das imagens. Primeiro lento, depois uma após outra competindo e todas vitoriosas.
Chega o breu. O silêncio total, também. Nada mais de cenas. Caio o pano sob os olhos.
Retesou. Espreitou. A flutuação começou. Tirou do quadro, finalizou o fato. Subiu, subiu sem entraves.
Desaparece o quarto. O prado verde e ensolarado ganha a cena. O vento no rosto.
Engraçado! Surpreendente! Agora o medo rouba o ato. Parado. Pausado.
O vento doce insiste. Move o tato. O gosto liberto relaxa o peito. E lá se vai pelo prado.
Sem portas, sem chaves, sem flancos. Um mundo afora.
Adeus. Nunca mais.

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quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Duas chaves

Uma de abrir, outra de fechar. Estão à mão de todo peito e é grande a demanda.
Quando a de abrir abre, é só alegria e gentilezas.
De qual das duas se usa mais os préstimos? Você sabe a resposta.
A de fechar está em voga, atende a todo pedido. Não se faz de rogada, e sai por aí fechando todos na escuridão. Na raiva. Na reclamação. No não concordo. No nem ligo.
Mas, há dias em que a de abrir trabalha. Todos e tudo saem do porão. E tem luz do sol e todo mundo é gente boa. Tudo tem jeito, o mundo vai melhorar.
Tem pouco desses dias, e muitos dos de fechar.
Uma perdeu o viço e a outra continua brilhando.
E sobre o peito, você me pergunta, trancado no cinismo e na crítica? É, você sabe a resposta.  


terça-feira, 22 de setembro de 2015

ARENDT

O mal é extremo, quando o bem não ronda. E por que o bem não ronda?
O mal arromba, enquanto o bem pede, timidamente, passagem. Por que o bem se insinua tímido?  - Talvez para não parecer desordeiro.
Desordenar os pensamentos e descontinuar os que estão em voga cansa. É tão problemático dar ordenação e solução aos problemas, aliás, tantos deles nem tem solução. Para que tentar? Afinal, não vale a pena ser metido a besta, não há retorno.
O mal contunde e faz tudo rolar escada a baixo mesmo. Que diferença faria pensar sem corrimões?
Alinhar o pensar bem é difícil, pensa que não?
Pensar em se ter o mal a cada esquina, e considerar o bem novela mexicana e piegas, pode ser comum, mas não é banal.
O pensar e o bem não se alienam a qualquer cidadão, mesmo estando esse à morte, mediocridade e banalidades à parte.


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Finalmente, a verdade.

Ele valente que bate no touro. O touro que chifra a gente.
 A gente que pensa que é fraco e cai num buraco.
Um buraco que a gente pensa que é fundo e que é “o fim do mundo”!!!
Mas, na verdade, hoje é domingo, pede cachimbo. Aquele da paz, da lucidez.
E o que a gente tem para o futuro?   Se ele é valente, se nasceu em berço esplêndido e se a gente não foge à luta...
A gente tem água. A gente tem vento. A gente tem verde. A gente tem sorte.
O que novas eras reservam pra gente?  “O que se fizer por merecer”.

Se sua gente, a gente, não o desmerecer e enxergar o lindo florão da América, terá, por certo, no porvir, um novo mundo. 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Desse jeito ninguém aguenta

Here comes the sun, it’s all right. O sol anda meio descrente sobre isso.
 Ele vem, fica, e nada lhe parece all right.
Às vezes ele se queda e acha que está “se gastando” à toa.
 Ilumina e ilumina e a luz não se faz. Ao contrário, parece que a era está mergulhando nas trevas, a cada dia.
Há uns telescópios potentes, lá pras bandas do primeiro mundo, que dizem que o sol está envelhecendo.
 Mas se vê claramente que ele está é deprimido. . A lua tem até, que vir de vez em quando, para acalmá-lo. Então, todo mundo pensa que é o fim do mundo. Vergonha!
A verdade é que desse jeito, qualquer um sucumbe, tem hora.
Os telescópios potentes disseram que não há motivos pra preocupação, só vai acontecer daqui a um trilhão de anos.
Só pra constar, há um ditado que diz: “se fia na virgem e não corras e verás o pago que levas”.



quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O direito de ir e vir

Um direito de dentro de si. Ir e vir em caminhos tortuosos.  A regiões longínquas.
 Direito carimbado ou intrínseco, incorruptível ou indomável.
Você vai por aí sem eira nem beira e vai gostar.
Decide que vai, decide que não. Passa pelo “nem pensar” sem escalas e procura pelo bilhete, desesperada.
Gosta das montanhas e de repente tem pavor de escalar. Está no beiral da vista do Cristo, mal chegou, quer voltar.
Não há censuras nem limites para a sua indecisão. Escolhe o quarto, se encolhe na sala.
Sem mais nem crer compra passagens pro Afeganistão. Todos de queixo caído e você “nem aí”.
Mergulha pra dentro, mergulha pra fora. E fica com frio, rapidamente. Tenta se aquecer com lembranças ou esquece o presente com champanhe.
Ir e vir você tem direito, até que se ache.  E em não se achando pode usufruir o direito de ir até o balcão de “achados e perdidos”, pedir explicações. Dar definições do que você nem sabe que perdeu, nem como era.  Fingir que está desolada pela perda irreparável. Gritar que ninguém tem cuidado.

Idas e vindas, direito registrado, o procurado, procurado. O registro de perdas e danos é todo seu.  E ao final, ir e vir ainda te pertence. Vê se tem um pedido só último talvez, que te enterrem na lapinha, calça culote, paletó e almofadinha.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Os bélicos


Ogivas apontadas, o dedo em riste.
Agora, que não se apertou num abraço, a decisão sinistra se prontifica.
O que se tem a perder? O mundo.
Agora, que não se ganhou confiança, que não se andou ombro a ombro, é a bancarrota.
O dedo sempre em riste, na cara, no peito, nas costas.
Quem com o dedo fere...
E lá vamos nós a clarear a mente para tomar a decisão.
 O botão nos atrai, e o próximo nos odeia.
Continuamos apartados e apertamos? Ou não?



quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Atender a um chamado

As portas estão fechadas. Afastem-se afogados, sedentos.
Aqui não há teto para vocês. Os muros são sólidos e altos.
 A indulgência apresenta rachaduras. De boas intenções estamos “cheios”.
Se vocês pensam que temos pão de sobra à mesa, enganam-se.
É o fim do batei e abrir-se-vos-á. Convidar os cochos e estropiados? Nem pensar.

As portas estão mesmo fechadas e para cada solicitação de salvamento, há uma mensagem gravada: “O número para o qual você ligou não atende ou não existe”.  

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Um lance com a cozinheira

- Estou de dieta. Em dieta. Adeus pavês, pizzas, filés na manteiga e pãozinho recheado.
Acabou-se a festa. Pra fora todo mundo: bom humor, alegria. Pra fora! Chega!
Meu suor destina-se agora, não ao “suar a camisa” de vitórias intelectuais e engajamentos morais, mas ao spinning, e pronto.
Suo só de sentir o cheiro do nhoque à bolonhesa, que a cozinheira do vizinho faz no apartamento do lado. Mas dou de ombros e continuo suando na esteira.
Acordo sobressaltado de um sonho tenebroso. Imagens: a casa da minha avó, um bolo com calda de morango, uma cadeira, uma mesa e eu sentado em frente todo lambuzado.
Meus olhos procuram, no quarto, Dukam com uma plaquinha “escapada zero”.
Ao chegar a casa, todas as noites, me dirijo à cozinha do Super- Homem. Sim, à fortaleza da solidão. Sinto-me gelado. Tudo abaixo de zero, gordura, calorias, açucares.
E numa noite dessas, já me decidi, vou tocar a campainha do vizinho e iniciar um relacionamento com a Marilu.
“Ataque, cruzeiro, consolidação; adiuos, fases non gratas. Morri!!


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Pergunte a cem pessoas

Cem pessoas se aprontaram para responder.
 A questão exigia raciocínio, internação. Mas a língua coçava e o que estava à solta na boca saia.
Não pensem que não houve consenso. Que consenso!
Cem pessoas responderam a questão. Enquete aprontada. Ideal estabelecido.
Bandeiras levantadas, teoria divulgada.
Deu-se a derrama. Esparramou-se a opinião.
Só um tiquinho era do contra. Que tolos!
A opinião virou ação. Ação gerou reação. Uma gostosa lei de causa e efeito. Matemática, precisa, sem privilégio ou eleitos.
Cabeças e línguas foram cortadas. A teoria dos cem provou estar errada. Que triste!


Para Lidiane

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Um cão, um gato.

Não parece não, mas é, é da lei, é “de lei” que companhia e afeto não se tenha só de gente.
Vem daquele que se deita na varanda da frente, num ângulo apropriado para esquadrinhar o perímetro, em te esperando chegar.
Vem daquele que, mesmo egoísta e independente demais, enrodilhado em cima da cômoda, cumprimenta ao te ver passar.
Um deles adivinha teu sofrer, teu prazer. Está de guarda, cem por cento, 24 horas e tudo dele é você.
O outro, fica claro, pensa mais em si, mas também, não vive sem você. Espera-te estar perto pra comer. Desliza por entre tuas pernas pra te agradecer. Se pede cafuné nele, é sempre para você. É teu, mesmo que saia e ignore tua aflição quando demora.
O primeiro obedece-te às cegas, segue todas as regras para não te aborrecer.
E quando a porta do carro é aberta e lhe pede para descer, lá vai ele, rabinho entre as pernas, a aquiescer. Depois da “coisa” acertada, obediente e cheio de afeto, se põe a correr de volta, em teu encalço. Cem por cento e 24 horas.
O outro não reconhece “senhor, senhora, senhoria” mas, mais uma vez, o afeto lhe diz que o dono dele é você. E quando a comida e o abrigo lhe são recusado, mia veementemente em frente da casa te esperando atender.
Não parece não mas, companhia e afeto não vem só de gente, vê?



quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Uma mentira por outra mentira

Do lado de dentro uma campainha tocou para ele. Era de alarme.
Do lado de fora ele bateu com a mão e desligou o aviso.
Levantou adormecido. O dia correu cheio de fatos alarmantes e ele alarmado.
Revoltado com tanta improbidade tomou posições, fez levante.
Amotinou-se contra os reinantes, senhores e senhorias.
“Nascera pobre, mas honrado”. O alarme soou de novo.

Ele bateu com a mão, desligou-o e permaneceu amotinado. 

terça-feira, 18 de agosto de 2015

O cotidiano tem trilha sonora

Um dia triste; claridade zero e pelo menos uma missão impossível. Mas, vamos embora que esperar não é saber.
Sem lenço e sem documento invadimos a repartição pública, o hospital, o hortifrúti, o banco e o local de trabalho.
Pedro pedreiro, Maria, Maria, quem quer que sejamos vamos à luta, sem temer a morte.
E num escritório exíguo, numa cozinha de hotel ou no Palácio da Alvorada, todos nós andamos com fé. É que de um jeito ou de outro “a fé não costuma falhar”.
Embirramos, achamos o dia chato, mas sempre passa como mais uma onda no mar.

E continuamos suando a camisa sempre ao som de uma canção, porque com ela, a vida fica muito mais cheia de charme.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Piparotes

São pancadinhas dadas com os nós dos dedos na cabeça. Podem doer.
É um termo usado em histórias de eruditos, um tanto antigas, ilustrando lição que se dava a meninos que precisavam.
Lembranças amargas doem muito. São piparotes na cabeça de meninos que não aprenderam a lição.
Um dia desses, numa história nada erudita, na cabeça de um desses meninos, choveu piparotes. Procurou que procurou doces lembranças que não doessem nada e não as achou.
Revoltou-se, não queria mais levar com os nós dos dedos em sua cabeça. As lembranças amargas insistiram e sua cabeça doía, doía.
As lições não mais as podia aprender, e insistia o menino, em pancadas devolver.
Num dia desses, fustigado e de coração partido, caiu o menino, depois de receber vários piparotes doídos.

 De longe se ouvia os estampidos. 

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O reflexo no espelho.

Clareia-se a tela e aparecem os imortais, cheios de força e poder.  As sessões se revezam, sempre cheias, ingressos esgotados.
O púlpito ergue-se e de lá o interventor derrama esperança sobre os ansiosos. Audiência fascinada.  As sessões se repetem, sempre, cheia de ávidos.
Os portões se abrem e a multidão invade. Sobre a grama verde, heróis se opõem no tablado. Estádio lotado. Gritos presos na garganta, ansiosos pela condicional de pelo menos, uma única vitória. Mil indivíduos e um só desejo individual; êxito, sucesso, triunfar.
De cada evento, a audiência volta para casa. Ora cheios, ora vazios de novo.
Comem, bebem, dormem. Vão trabalhar. Volta e meia, se olham no espelho, sem suspeitar que o herói que foram buscar, ali está.


quinta-feira, 6 de agosto de 2015

O seu, o meu melhor.

Sete da manhã.  Acordo. O quarto ainda em penumbra. Cortinas afastadas e a luz se faz.
Embarco nos seus fios dourados. Fio-me nela.  A melhor.
Pretendo muitas coisas, anseio, e então me arrojo. Começa o dia.
Lá vou eu velejar nos acontecimentos. Sujeito-me a chuvas e tempestades. A toda sorte de naufrágio, a conselhos, pressões e abandono.
“A culpa é sua” é meu almoço. “Eu não te disse” meu jantar. Acaba o dia.
Eu, meio desconcertado, volto pra meia luz de meu quarto.  Afasto as cortinas, ancoro pesadamente.  Arrependimentos farejam, me caçam e quando já estão de boca aberta, dentes afiados e salivando, à luz dos fatos, concluo;  -“ fiz o meu melhor”.


terça-feira, 4 de agosto de 2015

Puxa, empurra

Você pensa deter a vida. Então, lá vem ela e te puxa e empurra.
Você pensa em fincar pé e fazer escolhas. E assim, a vida vem e te puxa e empurra daqui pra lá e de lá pra cá. A direção? Não é você que dá.
Daí você não quer mais escolher. Começa a encolher. Encolhe-se daqui, encolhe-se de lá.
A vida vem e te escolhe e estica daqui, estica de lá.
Você não quer ir, quer estancar. Mas a vida acha que estando estanque, nada pode se dar.
E mais uma vez te empurra de lá pra cá. Você resmunga, no canto, enrodilhado, emagrecido, coitado. A vida não acha e vem de puxar.
A princípio, você não quer ir. Grudado no chão conhecido, mareado de tanto puxa, empurra.
Mas indo, mesmo sem querer, você vê: “que lindo lugar”!!!                        


quinta-feira, 30 de julho de 2015

All right, sem creme de abacate

Criança senta no meio fio e bate as perninhas, enfezada. Pede, o adulto diz não.
O adulto tem vergonha de bater as perninhas enfezado, de sentar no meio fio, mais ainda. A vida, entretanto continua lhe dizendo não.
Entretanto, o adulto fica furioso por dentro e, então, pra tudo diz não. Pra isto, pra aquilo, pra aquele, pra aquela e pra si mesmo. Não, não e não.
Acha merecer tudo com laços, com calda, merengues e cremes. Sim, é ele, aquela criancinha no meio fio. Mas veja só, já cresceu.
E agora? Nada mais o consola, nem balas, nem sorvetes e até mesmo bombons.
Permanece batendo as perninhas e dizendo não só de picardia.
Um dia, provavelmente, vai perceber que a vida pode não ser de tantos doces, mas vai depender dele, ser de mais “sim”.

Vai perceber que é preciso conceder e dizer: “All right, mesmo sem creme de abacate”.

terça-feira, 28 de julho de 2015

Sou eu

- Alô, quem fala?
- Sou eu.
-Eu quem?  Desligo a coragem acabou. De convidar para um lanche. De inventar alguma coisa, para esconder que queria falar com amor.
“Eu quem?” Ninguém, sou eu ninguém. A recusa da identidade amorosa dói tanto.
Seu irmão querido não te identificou, então não vem. Para o amigo tua voz soou estranha.                          
“Tem duas ligações entrando, quem está falando mesmo”?  Diz teu parceiro.
Toco as teclas, indecisa, enquanto elaboro uma desculpa por ter ligado. A memória das recusas e dos senões tecla em mim.
 Os dedos ficam cada vez mais lentos e a discagem não continua.
Ando pela sala repassando as coisas do amor. Não consigo achar nada de errado em ligar.
Não vejo intromissão, não distingo pieguice, não sei como amor pode atrapalhar.
“É uma questão de respeitar o tempo do outro”. Eu cá comigo- “é mesmo”?
Ando pela cozinha. “Será que amanhã será melhor dia pra ligar”? Será que não precisarei me apresentar. Minha voz será logo reconhecida, quando disser sou eu?
-“Sim, que bom te ouvir”, do outro lado da linha. Amanhã, talvez amanhã.



quinta-feira, 23 de julho de 2015

Livros de colorir

“A vaca amarela babou na panela, quem falar primeiro come a baba dela”.
Os pequenos não podem lembrar. Os grandes não estão pra brincadeiras. Os pequenos pra brincadeiras não estão, com seus ipads em punho, duelam nos jogos vorazes.
Os grandes, já cansados, não conseguem sair da armadilha em que estão. Afundados até o pescoço, num visgo não deletável nem desinstalável. Seus dedos têm a doença do movimento repetitivo. Seus cérebros desligaram de modo inapropriado e deram boot.
Enquanto isso, numa galáxia distante os pequenos se agrupam ávidos de adultismo. Nunca foram a Terra do Nunca e nem querem saber.
Então procurando a salvação e evitando o apocalipse inevitável, os grandes tentam atualização com Peter Pan. Que nada, a perspicácia e a intuição os abandonaram.
Buscando de bar em bar, de consultório em consultório e nada resolveu.
Mas eis que “na rua 24 onde a mulher matou um sapo com a sola do sapato”, uma loja de livros surgiu.
Os grandes, de lápis de cor em punho e livro de colorir na mão, foram encontrar os garotos felizes, com pó de pirlimpimpim e tudo.

Enquanto isso, uma salvação acontece no front para os pequenos. A professora ensinou alguma coisa doce: “o doce perguntou pro doce qual o doce que era mais doce e...”

terça-feira, 21 de julho de 2015

Amigos, como não tê-los?

Na caçada do mamute, você e a lança, sozinho, não dá. É preciso outro para distrair a fera, um amigo.
Na festinha, você convidado, deslocado, é preciso alguém que goste daquela música, goste muito e ache aquela outra chata, um amigo.
Na escalada do Everest, tanto frio, tanta solidão. Na verdade, você precisa de alguém para pensar junto, esquentando a decisão, um amigo.
Quando você descobre um livro, o mais legal, e você precisa falar daquele parágrafo genial, só alguém pode dividir sua euforia, um amigo.
“Na lanterna dos afogados”, você pede “vê se não vai demorar”, só quem pode chegar lá, um amigo.
Amigos podem ser de qualquer cor, de qualquer lado. Que falem qualquer língua, que não falem nada. Podem ser consanguíneos ou que não tenham sangue nenhum.
Podem ser vivos ou mortos, só precisam ser amigos.

Amigos, como não tê-los? Impossível!

Olá amigos, repetindo, em comemoração ao dia de ontem. Muitas alegrias.

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Somos iguais

Se fossemos não haveria tanta estatura. Cabelos de tantos tipos cores e tamanhos não veríamos. Peles diferentes não teríamos. Se fossemos possuiríamos coração, o mesmo que bate e que ama. Não infartaríamos em morte súbita. Só nos reconheceríamos por semelhanças.

Não seríamos medidos em palmas. Viveríamos debaixo do mesmo céu, sol e lua.
Se fossemos iguais poderíamos provar das mesmas iguarias. Provaríamos que superamos todas limitações, igualmente. Não levantaríamos bandeiras e nem para lutas armadas.

Somente em algo não diferiríamos em ser metidos a sete palmos. Banidos, não importando vaias ou aplausos. 
Uso ou desuso. Com carros novinhos em folha ou trabalhando em pé todo o dia.


Se somos iguais? Quem sabe?

terça-feira, 14 de julho de 2015

Os últimos serão os primeiros

Ajeitam-se na fila como podem, contendo a insânia. Respeitam-se a meia boca. O vale tudo está lá nas prateleiras. E lá se vão os homens, sedentos de coisas, não de água.
A fila anda engasgada, serpenteando, se fazendo de besta, tão grande, tão poderosa. Guardando o troféu lá na frente.
E lá se vão os homens, acotovelando-se. Atentos para que ninguém lhes passe a frente.
A aflição cresce, cheia de si, dentro deles. Eles cheios de aflição para que lhes chegue a vez. A vez de conseguir o que foram buscar. Cada minuto de espera exala mil memórias, conjeturas.
E se isso... E se aquilo...
 E lá se vão cheios de fome de poder, não de pão. O coração vai também, aos saltos, irritado e ansioso. Quanto mais por último, mais desesperançoso.
Então nos últimos lugares, o tal desalento faz um milagre. Os homens estancam, e com ele no peito, deixam de arfar.  “Pra que fustigar”? “Por que disputar”?
 Não querem mais as uvas, estavam verdes mesmo.




quinta-feira, 9 de julho de 2015

Nada parece se encaixar

Nada parece se encaixar, mas pode vir a se.
Enquanto não, ficamos por aí, a esmo.
No sentido figurado e nos sentindo figurantes em um plot sem roteiro.
Está certo, está errado. Está farto, está pouco.
Fez bem, fez mal. Muito gordo, muito magro.
Ora amando, ora odiando até à morte.
E essa, também parece não se encaixar na vida.
Mas essa outra acha que sim. E quanto mais se tem vida, mais se pensa na morte.
Ser metido dentro da caixa, aí mesmo é que não se encaixa.
Tantos sonhos. Tantos desgostos. Tantos afazeres e tudo por nada.
Sim, se pode ser feliz, mas isso, também passa.
Não, não se encaixa.  Perseguir, fisgar, agarrar a vitória é o acordo.
Mas, perder faz parte do jogo. “E aí, parece que se encaixa”?
Então, no ermo, numa noite estrelada parece que sim, tudo se encaixa.
 Estava lá o tempo todo, o vir a se.
Encaixa-se, se encaixa. É preciso ter olhos de ver.


terça-feira, 7 de julho de 2015

Se deres de beber

Estendendo as mãos, pegando o recipiente cheio dela. E mais sede e mais sede no pote.
Sua transparência, seu jeito inodoro, quanta saudade. 
Estendendo a garganta seca, os olhos murchos sem palavras nem prantos. E por aí, cabisbaixo vais. Cativo da culpa de tê-la negligenciado.
Se tivesses cuidado. Se não tivesse secado teu ardor. Se tua formosa natureza de bondade e presteza tivesse vingado e tivesses mimado-a...
Só há um silêncio fúnebre na fonte. E tu sentas lá se lembrando de como era ouvir os passos dela.
E mais nada no pote. Se deres de beber, vai ser do que te falta.
Agora, agora mesmo te falta atenção. Falta-te um quê de premunição. Falta-te profundidade na essência do que não te pode faltar.

Pega o pote, vá até ela. Plante-a, regue-a e no futuro teremos como dar de beber.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Nem tico nem taco

Será que o universo se importa? Eu queria mais tempo de duração. Queria mais garantias.
Gostaria muito de um manual de recomendações específicas, para casos específicos e mesmo um de modus operandi.
Se a Terra é um cisco na galáxia, imagina só o que eu sou. “Vai tentar entender”, acho que é realmente o que se diz, na atualidade, quando tudo é um mistério.
Fico aqui tentando saber das coisas, logicar, otimizar. Tentando fazer um upload na minha existência.
 Será que o universo se importa?  Nem sei por que desejo tanto uma resposta positiva. Talvez porque existir custa muito caro. Porque não adianta pedir devolução à fábrica.
Continuo aqui, em frente ao espelho, perguntas e respostas vão e vem. As primeiras são cortantes e positivas, as segundas, nem tanto.
Só sei ao certo, certíssimo, que aqui neste cisco da Via Láctea, o que importa mesmo é o sucesso. E na falta dele, a opção é um pulo no vazio. Muito utilizada, por sinal, nas redondezas.
Sucesso ou um pulo no vazio? Tédio ou um universo parceiro? “Vai tentar decidir”. Acho que o que se diz, numa expressão bem antiga, quando dois pássaros nos voam da mão é: “viu, nem tico nem taco”. O espelho permanece complacente, não concorda nem desmente.



terça-feira, 30 de junho de 2015

Nosso reino é assim

Território sagrado. Nosso reino é assim, mesmo que não saibamos de sua coroa brilhante nem de seu halo santo.
Mesmo que façamos tanto as malas e o deixemos pra balneários plebeus.  Mesmo que tomemos seu nome em vão apelidando-o no diminutivo, sem nenhum respeito.
Território sagrado onde “em se plantando tudo dá”, e ainda que se lhe tire todo fruto, todo ouro mais fecundo e generoso se apresentará.
A alquimia é de seu tempo e dela não é mais um aprendiz. “Gigante pela própria natureza”, em seu jeito Cord tem lugares nunca dantes visitados e mares jamais navegados.
Nosso reino é assim, território ilustre, ilustre desconhecido. Abandonado e renegado como “persona non grata” no seio de seu próprio clã.

Um reino de súditos cegos e coxos que não veem e não vão ao deslumbramento de tanto, até que um dia, qualquer aventureiro, dele, lance mão.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Lugar nenhum

O vírus “lugar nenhum” se auto instala e achando memória suficiente começa a rodar com grande facilidade.
Corrompendo outros programas, como um buraco negro deixa um vazio escuro e assombrado em sua máquina.
As imagens criativas mais auspiciosas dos PP - destino – “lugar nenhum”. Os Blogs de interesse público, realmente interessantes – destino – “lugar nenhum”. Os sonhos inexoráveis, na pasta do Word – destino – “lugar nenhum”. E finalmente, qualquer e toda iniciativa encantadora para mudar o mundo, espalhada na rede, o vírus peçonhento devora.
Experts em computação não chegaram à conclusão alguma de como bloqueá-lo ou desinstalá-lo. Boquiabertos e de mãos atadas permanecem em lugar nenhum.
Certos pronunciamentos governamentais, divulgados em rede, bandeiam-se para um gesto desesperado: -“Apagar o grande satélite de nossa aldeiazinha global e na reinicialização, quem sabe”...
Neste fim de filme chamuscado e mal editado, parece que entrou em cena um tipinho muito nerd e bastante conhecido na Aldeia e fora dela. De túnica e cabelos longos, bastante démodé pro gostinho oficial, aparece e levanta a lebre; reza o concílio.
Diagnosticou que como “lugar nenhum” ocupa a memória disponível é mister não deixar memória desocupada. Encha-se a máquina de utilidade pública, utilidade humanitária, utilidade de certas inutilidades amenas. “Com toda essa memória ocupada com coisa que o valha, a tribo está salva” – disse ele.



terça-feira, 23 de junho de 2015

Devidos dividendos

Qual a parte que te cabe?
 Qual a parte que me cabe?
Partes estabelecidas com prazos e cifrões, quais são?
Se me cabe, ai de ti. Se te cabe ai de mim.
As porcentagens que me cabem estão em alta, as suas despencaram no abismo das ações baixas.
“Oh me, me mine” era só o que via Lennon.
Não se enxerga devidos dividendos, devidamente divididos.
 Há muitos dias nublados e o vento norte dissipa toda divisão.
 Os melhores dias, lá se vão.
 Os dias de hoje continuam como são: cifrões, contas abastadas exteriorizadas.
Minhas ou suas? Não se sabe, não.

Na verdade fica tudo como dantes, tal e qual: “oh me, me, mine”.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Basta

O pouco que cabe parece que não basta. O superficial saber, basta. O peso nas costas –“já basta”.
Pressões, prisões, reclamações, encenações, escoriações: Basta, basta!
Dentro, na cadeia do muito, o peito clama por mais. Fora, no mundo, muitas vezes, o mais não vem. Do que era pouco, ainda mais parece ser tirado.
E toma-lhe solidão, mudez, carrancas e, por incrível que pareça, a mais ingênua e inapropriada esperança.
Fora de hora, fora de esquadro. Uma desesperada esperança “invade e fim”.
E a cada passo, apressando o passo, a boca se abre.

E a tudo que atrapalha a felicidade, grita: “Basta”!!!!

terça-feira, 16 de junho de 2015

Pense nisto

Todo mundo, eu você, é um empreendedor de um pequeno negócio.
“Penso, logo existo” lembra? Descartes estava certo, e nosso negócio é pensar.
É um negócio de risco, bem o sei, mas o lucro assegurado é existir.
Como quem pensa existe e desse negócio não se desiste, acho melhor investir. Pode-se começar com pouco, não é preciso quantia vultosa. Gerenciar bem o pouco, no entanto, é mister, para que a quantia não vire nada.
Escolha com esmero um bom ponto. Nos domingos e feriados, nada de loja fechada.
O estoque deve ser sempre arejado, e mantenha os itens mais pedidos nas fileiras limpas e da frente. Cuide pessoalmente de toda contabilidade. Ativo, passivo, despesas e receitas tudo cadenciado.
Administrador? Você mesmo, não deixe a firma nas mãos de ninguém.
A demanda de mercado é importante, mas também, necessidades e pedidos bem mais avançados.
Deste negócio não se abre falência, não se fecha pra balanço e para bom lucro – trabalho dobrado. Dia e noite, noite e dia, prevenir para não remediar.
Cansado? Mas o negócio já foi fechado. Resta-nos, esconjurar “tempos de vacas magras”, sobrepujar as expectativas de déficit e lucrar com a vida, porque existir é preciso.
Pense nisso.


quinta-feira, 11 de junho de 2015

Pelo sim, pelo não.

Urge arejar.  Deixar ventar um vento corajoso.
 Sóbrio, varredor de toda folha seca de dentro de sua cabeça.
Faz-se necessário levantar, e espiar na porta do porão de pensar.
Dar uma boa espiada de peito aberto e mente escancarada. “O que tem aí”? Perguntar a plenos pulmões.
Carece concatenar ideias. Polir as que prestam, como a prataria da casa. Reservar as não muito brilhantes para dias sem festa.
É imprescindível editar as películas com pensamentos. Priorizar os nobres e ventilados, fazendo-os sincronizar com as legendas.
Há que se dar mais ação à inspiração. Há que se pensar em pensar, fazendo.
Subordinadas subjetivas à parte, fique certo de que de toda essa argumentação depende sua saúde mental.
Assim sendo, pelo sim pelo não, guarde esta pocket crônica e sirva-se dela quando a paz acabar.


terça-feira, 9 de junho de 2015

O pato

“Pagar o pato” não é depois de comprá-lo para o jantar.
Em verdade, é quando jantaram você. Outro fez errado, erraram a pista e, vejam só, a autoria é sua.
 –“Se, pelo menos, não saíssem antes de trazerem a conta”. O dever de colocar tudo em pratos limpos agora parece tão coerente. Saber o pato que te cabe.
A conta, não se assuste, vai ser uma pechincha. Claro se o jantar não for de magnata e se antes da sobremesa, você chamar o garçom.
Não entender do menu no jantar da vida, vá lá, mas sair pedindo qualquer prato...
Concentre-se, faça curso de línguas, de gourmet, vá a vários jantares. Especialize-se ou vai acabar pagando por “pato”.


quinta-feira, 4 de junho de 2015

... O momento é que se aproveita de nós.

Como dizer não para o agora? Como fechar a clara visão do “se não for naquele instante nunca mais será”?
Pensamos em tomar decisões, as decisões é que nos tomam. Pensamos em aproveitar o momento, o momento é que se aproveita de nós.
De toda sorte, ou estamos sem sorte, ou a sorte está conosco. E assim mesmo, achamos estar no comando.
Quebramos a cabeça decidindo entre dizer sim ou não.  Achamo-nos sem um canto. Então decidimos levar tudo a ferro e fogo.
-“Ou é do meu jeito, ou nada será feito”. Ledo engano.
Aí é que as coisas se fazem e até ficamos sem jeito. E vem um momento que não controlamos e outro atrás de outro.
A vida não fica num canto. Nem nós. E o momento vem e se aproveita de nós e é tão bom!


terça-feira, 2 de junho de 2015

A paz

Esperava ter paz, alguém lhe havia garantido. Esperava ter mais, mas não tinha garantias.
Sobre a paz, vinha-lhe a imagem de quem prometera. Queria tanto o presente, e não lhe satisfazia tanto “cavalo de Tróia”.
Juntava-se ao bando que reivindicava a dádiva. Vestia-se de branco e ia para as praças. Armava-se de esperança e de pombos a voar.
Ia que ia, buscava que buscava, batia e nada de “abrir-se-vos-á”.
Um dia, insatisfeito, com a mochila cheia de desencanto, amolecendo-se ao sol, teve um estalo. Como apanhá-la, como, não a perder, agora sabia de que consistia a promessa.
Sem alvoroço, soube que era só não ficar inquieto sobre o beber, o comer, o governar o mundo. Que era menos sobre ter, sobre o seu, o meu e mais sobre o nosso.
Pegou o presente, engoliu-o e ficou quietinho, cheio de paz.






quinta-feira, 28 de maio de 2015

Humores

Risos são sintomas de vida. Choros são sintomas de morte.
Preferem-se, então, risos às bandeiras despregadas e não nos venham falar de tal sorte.
Convictos de que mente sã é dádiva da “graça”, rimos da própria desgraça.
Incapazes, alguns, de prover o seu remédio, mascates surgiram, aos montes, com seu elixir milagroso.
E dizem que dentro dos frascos tem de tudo um pouco. Dizem que toda e qualquer substância  é permitida pelo CNM, desde que tornem todas as circunstâncias hilárias.
Os que não suportam os sintomas de morte dividem-se: os que são de opinião que todo riso é bom; os que acham que é preciso ter compostura e que não é de tudo que se pode fazer graça.
Os profissionais atestam que como no amor, para salvar da “desgraça” tudo lhes é permitido.
Muitos concordam que – “até piada sem graça”.
A vida, confabulando com a morte, não viu razão pra tanta questão. A morte, confabulando com a vida, não viu em si razão pra tanta desgraça.
Os risos e os choros acharam-se tão bem colocados!  E os humores consentiram em ser remédio para todos “males”.




quarta-feira, 27 de maio de 2015

Mal sabia ele

Ter medo, instinto de conservação ativado.
Temer sempre e todo tempo: fim da história.
Mal sabia ele que enlouquecer não estava nos planos. Mas, do jeito que ia sua obsessão, o plano B estava prestes a entrar em ação.
Marcado para morrer, é claro, sempre estivera. Desvairar, perder o jogo dos sonhos, não.
Perdia cada vez mais a mão, e punhados extras de vaidade e bobagem, destemperavam sua atuação.
Mal sabia ele que não sendo ele próprio, personagem de uma de suas histórias próprias, apropriava-se indevidamente da de outrem.
Queria se incluir no destemperado plágio, como um sofredor psicótico, sem direção.
Queria se por à força, em camisa de força, o que lhe parecia enaltecedor. Mas, mal sabia ele que na história do outro “escritor” o adjetivo certo era: infamante.
De tanto não saber, graças a Deus, acabou percebendo, que enquanto ele desconhecia, a história certa se escrevia. E que louco que nada. Tinha que se por em prumo, mirar o seu rumo e deixar “de história”.