quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Instrumental


Diziam que ela falava demais. Cansou-se da mão de obra e com a escassez de matéria prima, emudeceu. Pegou um atalho, mas persistiu no beating.
Primeiro a percussão, as cordas, depois os metais e o sopro. E ia levitando estrada a fora, só no ritmo.
Quando perguntavam “e a velha flama”? Dizia que preferia ouvir.
Ouviu de tudo e mais um pouco. Tambores rufando o descaso. Estancava, às vezes, perplexa com as cordas armadas por sobre cadafalsos, à espreita.  Metais afinados prontos para alguma ferida. As flautas e trompetes anunciando tempestade, pegava só de ouvido.

E ela continuava no acorde. Sem palavras, sem canseira. Sem jargão apropriado, com tempo de sobra para fluidificar.  Não mais precisaria da esgrima da língua afiada. Era só deixar o som entrar dando seu recado. –“Instrumental demais, e daí”?

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