terça-feira, 28 de agosto de 2018

“Vão indo bem, obrigada”.


Vê-se sempre obrigada a dizer o mesmo.
A quem interessar possa; detalhes das psicopatias, das perdas, dos danos, não, certamente, não.
Custa-lhe a crer que esta realidade passa por atualizações automáticas, então que se lance mão de uma paralela.
“Vão indo bem”.
À noite, mal dorme. Enumera detalhes e listas das dores deles.
Arranja saídas, discursos sensíveis tomados como  censores. Medidas desesperadas.
Encolhe-se toda debaixo das cobertas. Afinal, são arranjos inexequíveis.
Logo, estica-se, apruma-se, tentando entregar a Deus o que é de Deus.
Tem certeza que Cesar pegou sua parte e um pouco a mais.
Vê o novo dia chegar, sempre o mesmo.
Sem ilusões, mas cheia de invencionices, tem tudo na ponta da língua.
“..., obrigada”.

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Vamos fugir


Desmantelada a cabana. Roupas na trouxa. Convite para debandar.
Não queremos mais ficar.
A paciência não vingou e a mudança de ares se impôs.
Nossas caras contra o vento, desejosas que bons ventos nos levem.
O alimento pouco e a paz nenhuma.
Então, por que ficar?
Que lugarzinho árido! Vamos fugir. A pé, de trem, pra lá, pra acolá.
Se ninguém mais quiser, vamos sós.
 De dentro pra fora já tentamos e deu em nada.
Agora, fujamos de fora pra dentro.
Achamos que desta vez, vai dar!!!!

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Casal 20


Ele falou deles e do amor.
Pediu que se amassem sempre daquele mesmo jeitinho.
 Falou que também os amava.
Eles ficaram ruborizados.
Com coração aos saltos, envolvidos naquele abraço que ele aprontou.
Ele, sem embaraço, continuou a falar de inspiração.
 Do amor que nunca teve, não falou não.
E os estreitou mais.
 Ficaram os três sem ter mais nada a dizer.
Embaraçados procurando palavras de desfecho, com se precisassem.

quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Sem porta e sem janela (out of the box)


A mente aprisionada encurtou. Ficou metida numa medida exígua.
Já sofrendo de claustrofobia, não teve como criar, aspirar, sonhar.
O que esperavam?
 Sob o pretexto de educá-la, colocaram-na em cárcere. Trancada a sete chaves e jogaram todas fora.
 Mas um belo dia...
 Sabe-se lá como, ela fugiu.
Encontrou seu lar, um sem porta e sem janelas.
Inflada de tanto ar, explodiu em mil projetos, proposições, novidades.
Alta com tanto espaço virou em várias rodadas, sem tomar a mão errada.
Nada mais de esquinas e encruzilhadas. Estava emancipada.
 Livre sem ser reacionária.
 Nem pró, nem contra, só ativa.

(Riverside school)

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Tratos à bola


Em nossa esfera, na atual atmosfera, o cérebro humano tem dado tilt.
 O coração, órgão vital, tem, também, estado fora de ação.
 E mesmo com todo o diagnóstico de morte, continua-se vivo.
E no jogo de existir o “cogito, ergo” cai pra escanteio.
Airados e aéreos, a coisa toda da “vida” para de funcionar.
Sem tratos à bola, não há empate, nem vitória, nem derrota.
O juiz pode apitar e pegar a pelota.
Não pensar, ultimamente, é nova regra do jogo.
E mil tarefas, fitness, business, happy hours são estratégias de campo.
O cérebro e o coração ficam no banco.  
O final só pode ser jogadores dispersados e sem luz no fim do túnel.