quinta-feira, 28 de maio de 2015

Humores

Risos são sintomas de vida. Choros são sintomas de morte.
Preferem-se, então, risos às bandeiras despregadas e não nos venham falar de tal sorte.
Convictos de que mente sã é dádiva da “graça”, rimos da própria desgraça.
Incapazes, alguns, de prover o seu remédio, mascates surgiram, aos montes, com seu elixir milagroso.
E dizem que dentro dos frascos tem de tudo um pouco. Dizem que toda e qualquer substância  é permitida pelo CNM, desde que tornem todas as circunstâncias hilárias.
Os que não suportam os sintomas de morte dividem-se: os que são de opinião que todo riso é bom; os que acham que é preciso ter compostura e que não é de tudo que se pode fazer graça.
Os profissionais atestam que como no amor, para salvar da “desgraça” tudo lhes é permitido.
Muitos concordam que – “até piada sem graça”.
A vida, confabulando com a morte, não viu razão pra tanta questão. A morte, confabulando com a vida, não viu em si razão pra tanta desgraça.
Os risos e os choros acharam-se tão bem colocados!  E os humores consentiram em ser remédio para todos “males”.




quarta-feira, 27 de maio de 2015

Mal sabia ele

Ter medo, instinto de conservação ativado.
Temer sempre e todo tempo: fim da história.
Mal sabia ele que enlouquecer não estava nos planos. Mas, do jeito que ia sua obsessão, o plano B estava prestes a entrar em ação.
Marcado para morrer, é claro, sempre estivera. Desvairar, perder o jogo dos sonhos, não.
Perdia cada vez mais a mão, e punhados extras de vaidade e bobagem, destemperavam sua atuação.
Mal sabia ele que não sendo ele próprio, personagem de uma de suas histórias próprias, apropriava-se indevidamente da de outrem.
Queria se incluir no destemperado plágio, como um sofredor psicótico, sem direção.
Queria se por à força, em camisa de força, o que lhe parecia enaltecedor. Mas, mal sabia ele que na história do outro “escritor” o adjetivo certo era: infamante.
De tanto não saber, graças a Deus, acabou percebendo, que enquanto ele desconhecia, a história certa se escrevia. E que louco que nada. Tinha que se por em prumo, mirar o seu rumo e deixar “de história”.



terça-feira, 26 de maio de 2015

Faça chuva ou faça sol.

Na demanda do solo árido, ela não se faz de rogada.
Atende, transborda-se, pranteia. Sempre deixa o cheiro inconfundível de renovação.
Ele vai curar os deprimidos. Não dorme não se ausenta e no momento aprazado, incandesce e ilumina.
Na desesperança de noites sem fim, ele sorri irônico.
Ela adora tamborilar nas janelas, canções de ninar. Todos os entes da Terra amam um e outro.
Os melancólicos adoram-na. Os entusiastas não vivem sem ele. Muitos não têm preferência, outros reclamam dos dois.
Ela não se dá por achada, mas, às vezes, só de picardia, ausenta-se por um tempão.
Ele, sem opção, arde eternamente e pensa – “até quando”?
Faça chuva ou faça sol, os dois são profissionais. Bem sucedidos prescindem de qualquer apreciação ou caridade alheia. Já os entes da Terra, ai deles, sem o duo confraternizado.
Oferecendo-se para minimizar os ais gostariam muito que os seres fossem mais “vivos” e se encharcassem do fluido e se banhassem de luz. Afinal, é de graça.
 Gostariam, ainda mais, que não dessem as costas, sombrios, ao profissionalismo do Céu.
O Céu, esse sim, prestes e crente, faça chuva ou faça sol.


quinta-feira, 21 de maio de 2015

Frágil, extremamente frágil.

Capacidade de pensar – 100%, eficiência no projeto – 7%, e eis aí a dor.
Ideias, informações, saídas aos montes: totalmente fora do consciente analítico e sim, todas esparramadas sobre o colchão.
Coisa de advogado de defesa, as fichas expostas para o “show time”, um olhar atento, mas no íntimo, total desorganização.
E puxa daqui, empurra dali e nada, frágil, que extremamente frágil coração!
Diriam ser “task” do cérebro todo esse escopo, o fato persiste é que ele, o superdotado, não dá conta e sobra pro outro, coitado...
Que bela dupla fariam. Invejada, imbatível, top da fama; seria muita alegria.
Mas vejam só, separados; potencial deficitário e eis aí, a dor.
Digamos haver certo déficit nas sinapses, e que realmente William James esteja certo.
Correremos desesperados para conquistar 30%, quem sabe a mais, e daí?
Quais as garantias sobre o esvanecer da dor?
Caso encerrado, o júri decidiu por: usar o cérebro e o coração, aliados, e teremos total absolvição. Lado direito e lado esquerdo irmanado.
Quanto à dor e a alegria... O pensar está condenado: “Frágil, extremamente, Frágil”.




terça-feira, 19 de maio de 2015

Por um breve momento

Por um breve momento, tudo é tão ruim e logo após, tudo é tão bom.
Sempre em segundos, os opostos convivem e se atraem.
 Coisas de dupla personalidade, duas caras, em cima do muro e outras equivalências, mas, afinal, é a vida mudando de opinião.
Uma hora, o horizonte escurece cheio de chuva pesada.  E em breve, é de sol claro cheio de aceitação.
Por um breve momento, pensa-se que é para sempre, no outro não.
Em segundos, acha-se que é chegada a hora, a seguir vê-se, faltam horas.
É de breves momentos que se faz a vida. Às vezes parecem péssimos, e outras, parecem sãos.
Paradoxos no tempo, e opostos em confraternização.
Tudo que se quer é que “o mal” seja breve, e que “o bom” dure pra sempre, mas não acontece, não.
Então, salve o que puder, porque os dois se revezam, por breves momentos.
E salve-se quem puder.



quinta-feira, 14 de maio de 2015

Um tiro no escuro

Ele achava que havia muito a ser dito, muito antes, hoje não. Já havia dito tudo, se enganado demais e frustrado fragorosamente.
Passou a gostar do silêncio. Palavras não ditas, melhor assim. Nem se apresentava mais. “Fulano de que”? Suprimiu a foto do face, desfez o twitter,apagou o falatório.
Emudeceu e nada de Libras. Pensamentos no sótão, adendos no porão e tudo no escuro.
Quiseram saber por quê? Agora queriam ouvi-lo, mas era tarde demais.
Uma tarde, começou a sentir-se sufocado. As palavras se agitaram e queriam transbordar-se do peito. Saiu trôpego, da penumbra da sala. Seu destino era o escritório, mais precisamente, o laptop. Tinha que vir à tona, ou estaria perdido. Afogado, engolfado em ideias, um som oco o fez tremer. Fora o tiro de misericórdia, seu coração não aguentou.
Debruçado por sobre o blog, palavras lhe jorravam da boca. Ter, não ter, não ser, continuar, face to face, pedir, interceder, esclarecer, perdoar, doar, morrer.
Agora, já não mais podia, mas havia tanto a ser tido.


terça-feira, 12 de maio de 2015

Supostamente certo

Para cada pergunta existe resposta. Para cada problema, uma solução.
- “Sim ou não”? Você acredita nisso?
Já vi perguntas ficarem sem resposta nenhuma e já vi problemas sem solução. Já vi... Já vi o quê? Supostamente, não estou certa. Entretanto, certos, todos acham que estão.
Supostamente orgulhosos de ter a verdade na mão. Prisão por falsidade ideológica ser-lhes-á o destino, se não apresentarem certidão.
Bom mesmo é ficar livre com meia dúzia de soluções, somente pros nossos próprios casos.
Não responder nem sim, nem não. Permanecer calado, quando em juízo do problema de outro. Arranjar certidão por via das dúvidas, desmanchar qualquer embaraço e ficar, certamente, convicto de que o problema sem solução não é o seu.
Bom mesmo é estar certo, enquanto todos pensem que, supostamente você está errado. É estar redondamente enganado quando tudo aponta para a adequação....
Supostamente, a vida é assim mesmo.
- “Você acha”? Eis a questão.



quinta-feira, 7 de maio de 2015

Cada qual no seu quadrado

A vilazinha encastelada. Moradores admiráveis. Comidas tradicionais, respeitosas tradições.
Felizes eventos, e ela irrequieta.
Todos da mesma casta, os clãs envolvidos, brilhando disciplinados.
E ela irrequieta.
Festas dos domingos todos convidados, impávidos e esbranquiçados.
Ela, irrequieta.
“Bom dia, boa tarde”, ai que bom! Mas, ele irrequieta.
Vive fugindo para o emaranhado das árvores, para o descampado de uma ideia nova. Saindo do castelo, nas cercanias perigosas, come e bebe do que não deve. Gargalha sem disciplina, corre à solta. De castas nada entende e tem intenção de desfazer os clãs, antes de chegar às cãs.
Elástica e despretensiosa pretende ter mais de tudo a mais que não caiba, definitivamente, naquele quadrado.
Um dia, Marie apareceu radiante. Num domingo encastelado, com um novo namorado nada esbranquiçado.
E rodopiaram galantes, sob olhares faiscantes, ao tom da tradição reinante. Valsando alegres e irradiantes, bem para fora do quadrado. E fim, finalmente.

Homenagem a Marie Darrieussecq



quarta-feira, 6 de maio de 2015

Flowers

Flowers, in the fields, shining through with tops printed as if a fine thinking desired you to be good.
Yellow, blue, white, red, black, in branches, embracing parcels of care.
Offering themselves to the stone, not in sacrifice, but in pleasure and joy, on your behalf.
Behold the intention of Heavens, only one - to love you.



terça-feira, 5 de maio de 2015

Talentos

Protestar é preciso, por hora mais que navegar. Pois já navegamos muito em águas que não estavam pra peixe. Já nos convidamos para muitas peixadas que não tinham talento algum.

Pá e picareta na mão vamos desenterrar os talentos.
Fica esclarecido, doravante, que não vale escamotear, regatear, nem maquiar. O melhor tem que aparecer.

E lá está ele, o melhor, a brilhar. Não cabe em si de contente.
Vamos até lá. Vamos, cumprimente.
Que não nos façamos de rogados. Sem mais do velho jargão de coitado, sem talento pra nada.


Agora, desenterrados não podemos mais ser capachos. Protestando contra a amolação de não ter talentos, vamos até eles, antes que um aventureiro lance mão.