terça-feira, 28 de novembro de 2017

Dias de chuva

Os melancólicos ficam felizes, (dizem).
Quando o sol brilha é aventura pura, (pra outros). O sol isso, o sol aquilo.
 Gente up gosta de sol. Mas, umas gotinhas deslizando por vidraças tem seu encanto.
O som da chuva lá fora e uma bebida que aquece, agradam gregos, troianos, ingleses e cariocas.
Ainda existe um gosto secreto de andar na chuva sem se guardar. Easy rider, lavando toda ferida.
Plantadores de sementes, de toda espécie, precisam d’água. Escritores, professores, agentes de saúde, agentes de limpeza, pacificadores, negociadores, encantadores, cantadores não regam, nem florescem sem chuva.
O sol aquece, e a chuva enternece.

Há que haver mais corações enternecidos, em tempos de raiva escaldante.

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

Deixa comigo

Pensando bem não é preciso muito pra se viver na superfície, parecendo ser preciso e profundo.
É muito bom entender um pouco de tudo. É muito ruim assumir não entender nada de nada.
Então não assuma! Olhe de enviesado.
Ajeite um ar de “deixa comigo”. Vá levando!
Se convide.  Receba. Dê um pouco. Peça muito.
Dê de ombros, sem melodramas.
Se nada der certo, não é contigo. Se der, “viu, eu não disse”?
“Ce la vie” é Einstein. A tal teoria te transforma em expert, fácil, fácil.
“Tudo é relativo” desarma cada bomba! E você sai ileso.
Percebe? Não é preciso muito.


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Por todos e por tudo

Ponto final. O parágrafo havia terminado.
 A justificativa apresentava a causa e o objeto indireto.
- “Por todos e por tudo que havia sofrido”.
 As palavras escritas espreitavam o ato. Nada festivo, nem cômico, porque trágico.
- O sonho acabou. “Dream was over”. And it was meant.
Então, uma lantejoula brilhou na ponta da mesa. Das mascaras e purpurina que se foram ao final da festa, ela resolveu ficar.
O pequenino adorno brilhante desafiava à espreita da escrita.
O canto do olho fotografou a lâmina furta-cor. No humor aquoso desfilou o lúdico da juventude. Mil jogos, beijos, Iwant to hold your hand, muitos “sim”, gentilezas, prêmios e mãos estendidas.
O parágrafo mudou. A tinta azul rabiscou freneticamente o “por todos e por tudo”.
Um suspiro ecoou no corredor. O anfitrião estava pronto pra outra festa.
Nessa ela seria um convidado com alegria e felicidade, genuinamente, honradas.
Ele riria, brindaria e comemoraria, festivamente; por todos e por tudo.
Ponto final.


domingo, 5 de novembro de 2017

Angélique e sua bicicleta

Noite escura demais. Dia sombrio, o inferno era ali.
Um coração feminino que não mais era. Nenhuma lágrima sobre os panos.
Uma dor de cortar.
 Levemente, de repente, se insinua um zumbido de vento por entre aros.
O som que faz a mulher estremecer. Onde, antes, não havia arfar, horrorizar nem agonizar, agora brotava o esperar.
O acorde da harpa silenciou.
 Angélique pairou, cuidou, curou e um coração feminino voltou a ser.