terça-feira, 29 de setembro de 2015

Epílogo

Descerrou. Fim do ato. Nenhum som. Só o eco das imagens. Primeiro lento, depois uma após outra competindo e todas vitoriosas.
Chega o breu. O silêncio total, também. Nada mais de cenas. Caio o pano sob os olhos.
Retesou. Espreitou. A flutuação começou. Tirou do quadro, finalizou o fato. Subiu, subiu sem entraves.
Desaparece o quarto. O prado verde e ensolarado ganha a cena. O vento no rosto.
Engraçado! Surpreendente! Agora o medo rouba o ato. Parado. Pausado.
O vento doce insiste. Move o tato. O gosto liberto relaxa o peito. E lá se vai pelo prado.
Sem portas, sem chaves, sem flancos. Um mundo afora.
Adeus. Nunca mais.

.

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Duas chaves

Uma de abrir, outra de fechar. Estão à mão de todo peito e é grande a demanda.
Quando a de abrir abre, é só alegria e gentilezas.
De qual das duas se usa mais os préstimos? Você sabe a resposta.
A de fechar está em voga, atende a todo pedido. Não se faz de rogada, e sai por aí fechando todos na escuridão. Na raiva. Na reclamação. No não concordo. No nem ligo.
Mas, há dias em que a de abrir trabalha. Todos e tudo saem do porão. E tem luz do sol e todo mundo é gente boa. Tudo tem jeito, o mundo vai melhorar.
Tem pouco desses dias, e muitos dos de fechar.
Uma perdeu o viço e a outra continua brilhando.
E sobre o peito, você me pergunta, trancado no cinismo e na crítica? É, você sabe a resposta.  


terça-feira, 22 de setembro de 2015

ARENDT

O mal é extremo, quando o bem não ronda. E por que o bem não ronda?
O mal arromba, enquanto o bem pede, timidamente, passagem. Por que o bem se insinua tímido?  - Talvez para não parecer desordeiro.
Desordenar os pensamentos e descontinuar os que estão em voga cansa. É tão problemático dar ordenação e solução aos problemas, aliás, tantos deles nem tem solução. Para que tentar? Afinal, não vale a pena ser metido a besta, não há retorno.
O mal contunde e faz tudo rolar escada a baixo mesmo. Que diferença faria pensar sem corrimões?
Alinhar o pensar bem é difícil, pensa que não?
Pensar em se ter o mal a cada esquina, e considerar o bem novela mexicana e piegas, pode ser comum, mas não é banal.
O pensar e o bem não se alienam a qualquer cidadão, mesmo estando esse à morte, mediocridade e banalidades à parte.


quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Finalmente, a verdade.

Ele valente que bate no touro. O touro que chifra a gente.
 A gente que pensa que é fraco e cai num buraco.
Um buraco que a gente pensa que é fundo e que é “o fim do mundo”!!!
Mas, na verdade, hoje é domingo, pede cachimbo. Aquele da paz, da lucidez.
E o que a gente tem para o futuro?   Se ele é valente, se nasceu em berço esplêndido e se a gente não foge à luta...
A gente tem água. A gente tem vento. A gente tem verde. A gente tem sorte.
O que novas eras reservam pra gente?  “O que se fizer por merecer”.

Se sua gente, a gente, não o desmerecer e enxergar o lindo florão da América, terá, por certo, no porvir, um novo mundo. 

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Desse jeito ninguém aguenta

Here comes the sun, it’s all right. O sol anda meio descrente sobre isso.
 Ele vem, fica, e nada lhe parece all right.
Às vezes ele se queda e acha que está “se gastando” à toa.
 Ilumina e ilumina e a luz não se faz. Ao contrário, parece que a era está mergulhando nas trevas, a cada dia.
Há uns telescópios potentes, lá pras bandas do primeiro mundo, que dizem que o sol está envelhecendo.
 Mas se vê claramente que ele está é deprimido. . A lua tem até, que vir de vez em quando, para acalmá-lo. Então, todo mundo pensa que é o fim do mundo. Vergonha!
A verdade é que desse jeito, qualquer um sucumbe, tem hora.
Os telescópios potentes disseram que não há motivos pra preocupação, só vai acontecer daqui a um trilhão de anos.
Só pra constar, há um ditado que diz: “se fia na virgem e não corras e verás o pago que levas”.



quinta-feira, 10 de setembro de 2015

O direito de ir e vir

Um direito de dentro de si. Ir e vir em caminhos tortuosos.  A regiões longínquas.
 Direito carimbado ou intrínseco, incorruptível ou indomável.
Você vai por aí sem eira nem beira e vai gostar.
Decide que vai, decide que não. Passa pelo “nem pensar” sem escalas e procura pelo bilhete, desesperada.
Gosta das montanhas e de repente tem pavor de escalar. Está no beiral da vista do Cristo, mal chegou, quer voltar.
Não há censuras nem limites para a sua indecisão. Escolhe o quarto, se encolhe na sala.
Sem mais nem crer compra passagens pro Afeganistão. Todos de queixo caído e você “nem aí”.
Mergulha pra dentro, mergulha pra fora. E fica com frio, rapidamente. Tenta se aquecer com lembranças ou esquece o presente com champanhe.
Ir e vir você tem direito, até que se ache.  E em não se achando pode usufruir o direito de ir até o balcão de “achados e perdidos”, pedir explicações. Dar definições do que você nem sabe que perdeu, nem como era.  Fingir que está desolada pela perda irreparável. Gritar que ninguém tem cuidado.

Idas e vindas, direito registrado, o procurado, procurado. O registro de perdas e danos é todo seu.  E ao final, ir e vir ainda te pertence. Vê se tem um pedido só último talvez, que te enterrem na lapinha, calça culote, paletó e almofadinha.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Os bélicos


Ogivas apontadas, o dedo em riste.
Agora, que não se apertou num abraço, a decisão sinistra se prontifica.
O que se tem a perder? O mundo.
Agora, que não se ganhou confiança, que não se andou ombro a ombro, é a bancarrota.
O dedo sempre em riste, na cara, no peito, nas costas.
Quem com o dedo fere...
E lá vamos nós a clarear a mente para tomar a decisão.
 O botão nos atrai, e o próximo nos odeia.
Continuamos apartados e apertamos? Ou não?



quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Atender a um chamado

As portas estão fechadas. Afastem-se afogados, sedentos.
Aqui não há teto para vocês. Os muros são sólidos e altos.
 A indulgência apresenta rachaduras. De boas intenções estamos “cheios”.
Se vocês pensam que temos pão de sobra à mesa, enganam-se.
É o fim do batei e abrir-se-vos-á. Convidar os cochos e estropiados? Nem pensar.

As portas estão mesmo fechadas e para cada solicitação de salvamento, há uma mensagem gravada: “O número para o qual você ligou não atende ou não existe”.  

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Um lance com a cozinheira

- Estou de dieta. Em dieta. Adeus pavês, pizzas, filés na manteiga e pãozinho recheado.
Acabou-se a festa. Pra fora todo mundo: bom humor, alegria. Pra fora! Chega!
Meu suor destina-se agora, não ao “suar a camisa” de vitórias intelectuais e engajamentos morais, mas ao spinning, e pronto.
Suo só de sentir o cheiro do nhoque à bolonhesa, que a cozinheira do vizinho faz no apartamento do lado. Mas dou de ombros e continuo suando na esteira.
Acordo sobressaltado de um sonho tenebroso. Imagens: a casa da minha avó, um bolo com calda de morango, uma cadeira, uma mesa e eu sentado em frente todo lambuzado.
Meus olhos procuram, no quarto, Dukam com uma plaquinha “escapada zero”.
Ao chegar a casa, todas as noites, me dirijo à cozinha do Super- Homem. Sim, à fortaleza da solidão. Sinto-me gelado. Tudo abaixo de zero, gordura, calorias, açucares.
E numa noite dessas, já me decidi, vou tocar a campainha do vizinho e iniciar um relacionamento com a Marilu.
“Ataque, cruzeiro, consolidação; adiuos, fases non gratas. Morri!!