terça-feira, 30 de setembro de 2014

Amigos, como não tê-los?

Na caçada do mamute, você e a lança, sozinho, não dá. É preciso outro para distrair a fera, um amigo.
Na festinha, você convidado, deslocado, é preciso alguém que goste daquela música, goste muito e ache aquela outra chata, um amigo.
Na escalada do Everest, tanto frio, tanta solidão. Na verdade, você precisa de alguém para pensar junto, esquentando a decisão, um amigo.
Quando você descobre um livro, o mais legal, e você precisa falar daquele parágrafo genial, só alguém pode dividir sua euforia, um amigo.
“Na lanterna dos afogados”, você pede “vê se não vai demorar”, só quem pode chegar lá, um amigo.
Amigos podem ser de qualquer cor, de qualquer lado. Que falem qualquer língua, que não falem nada. Podem ser consanguíneos ou que não tenham sangue nenhum.
Podem ser vivos ou mortos, só precisam ser amigos.

Amigos, como não tê-los? Impossível!

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Primavera

Floresça se for capaz! Força, coragem: margaridas, acácias.
Amadureça: violetas, begônias, de maio.
Regue-se, indulgencie, esqueça: rosas, lírios, edelvais.
Tranquilize-se, compreenda, adube, cresça. Eu não duvido um só momento, que seja possível e vou te incentivar até cansar.
E direi o tempo todo, “que vejo flores em você, que vejo flores em você”!


terça-feira, 23 de setembro de 2014

Um dia

Deixar para amanhã não se encaixa somente no princípio da postergação, que traz certo ar de preguiça, prontamente condenável em qualquer cidadão.
Infelizmente, participa, mais do que deveria, do contexto do sonho, do almejar, da deliciosa mágica de poder vir a ser, que é deixada para, “um dia”. Atitude esta, mais que condenável, sentencia qualquer cidadão ao tédio.
-“Serei piloto, um dia”.
-“Ainda vou voar de Asa Delta”.
-“Meu maior sonho é construir uma máquina que faz nevar”.
-“Sempre quis ser Miss Universo”.
O deixar para amanhã se intromete e vai amolengando o cidadão. O tudo de menos monta toma conta de seus dias esquálidos, sem viço, enquanto seu brilhante desejo se esvai acinzentado, num estranho túnel do futuro.
-“Não tenho jeito pra coisa”.
-“Agora, já estou velho”.
-“Não era uma boa ideia”.
-“Ah! Era um sonho bobo”.
E lá se vão os anos. Assim, um dia, se tudo não der certo, talvez, o sonho, o almejar, o mágico vir a ser, cansados de tanto esperar virão pegar o cidadão pelo colarinho e dirão:

“É agora ou nunca”!

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Isto não te traz paz?

 Venha flutuar no espaço sideral. Esteja por debaixo de um planeta. Uma esfera gigantesca se movendo, deslizando na imensidão, com ritmo e sonoridade musical. Continue aí e arrisque um olhar enviesado e maravilhe-se com os outros: Netuno, Plutão cadenciados e atraídos em uma enorme onda, cruzando o mar do céu.
Agora, olhe para você, uma pequeníssima partícula de poeira estelar. Um nada de alguma cidadezinha lá em baixo, bem lá em baixo. É fato, você não acreditará que a mesma Força Amorosa que move e atrai aqueles Titãs, sabe sobre você.
Vai te parecer inexequível que sobre tempo e espaço na lida da Força, para se preocupar com um interioranozinho lá de baixo, mergulhado em confusões e dores até a raiz dos cabelos.
Continue olhando aquela exuberância, eu sei que você não se vê e agora, treme de medo. Não se apavore ainda não.
 Sabe, há um adágio inexorável que diz que: tanto o macro quanto o micro são objeto de atenção da Força. Ela, de todo o sempre, entorna certo licor de amor, alimentando e inebriando qualquer criatura, acima nos céus e abaixo dele.

Isto não te traz paz?

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Deixe-os ir

Na fila, o caixa grita: - “O próximo”. Não é você, é o próximo.
- Mas que tipo de roupa é essa? Por que se remexe tanto? Esbarra em você. Será que é cego?
O próximo segue e bate com a bolsa em você, te acotovela. Descobre um amigo no fim da fila e grita:- Oi fulano. Conversam sem sair de seus lugares.
-Mas que tipo de conversa é essa?
E são muitos os tipos de próximos desfilando sob a crítica de teu olhar. - Não deveriam isso, não deveriam aquilo e a fila prossegue. No fundo, no fundo, você não quer continuar as avaliações, não quer ser juiz, não quer prendê-los.
O próximo insiste. Não se comporta bem. Erra no português. Reclama da fila, do caixa.
“O próximo”- grita o caixa, agora, é você. De costas para o resto da fila, exausto de críticas e de óticas, você se apruma pensando em se comportar bem. Para não ser julgado e metido em cadeia. “E de lá não sairás”.
Então você decide. O próximo é único, é belo, é livre. Jamais os prenderá a seus julgamentos, novamente. Sim, é melhor deixá-los ir.


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Assinado por...

Cheguei bem. De alguma sorte, no início, tive sorte. Fui recebido na estação por quem esperado. Dispensaram-me gentilezas.
Passou-se algum tempo, mudando vez por outra, nem sempre recepcionado, nem sempre com gentilezas, quase nunca satisfeito, achei-me cheio de azares.
Encontros, desencontros, esquinas solitárias, curvas perigosas, becos escuros e ruas sem saída era como descreveria meu lugar.
Aprendendo a jogar, jogava o jogo para o meu lucro, para o meu bem. Afinal, não era para isso que tinha vindo? Tentar a sorte? A minha e a de ninguém mais.
A sorte me escapulia por entre os olhos e ouvidos. A frustração me agarrava pelas mãos e pelos pés. Atado, amordaçado passei horas e horas de pura lamentação e estertor.
A que terras me lancei? Que águas, almejei singrar? Quero voltar! Quero voltar! Passagem só de ida, entretanto, havia comprado acreditando em que se plantando tudo dá. Só me esqueci de plantar.

Então, desatei-me com um pouco de sorte e plantei com muito esforço. Hoje em dia, colho algumas flores de maio, sou um pouco herói. Não sei de tudo, mas o pouco que sei me deixa achado, recebido, acolhido e feliz. Assinado por Deus.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Entre, por favor!

Você reconhece o lugar? Depois de estar mil anos fora. De andar mil léguas, não, não!
Entre, por favor, a casa é sua. Está do jeitinho que você deixou. Nada, no mundo, é tão seu. Em nenhum outro lugar do mundo, você estará tão feliz. Aproveite, é início de temporada, sua estadia é grátis.
“Mil anos de solidão” não foi bastante? Aconchegue-se, aprecie os cômodos, não repare a bagunça. Tudo se ajeitará. Afinal, você está de volta e com olho de dono, a casa ficará arrumada.
Esteja à vontade, do que você não gostar... Faça como queira. Mas, mas tem muita coisa aprazível, você não acha?
Areje. Distraia-se. Abra todas as janelas. Regue as plantas. Beba, à tardinha, o que você quiser. Mude a posição dos móveis, em três palavras, sinta-se em casa.
Voltando a falar de solidão, não se preocupe, o lugar parece ermo, entretanto, esta não é solidão de verdade. Segundo Chico Buarque “solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma”.
Portanto, entre, por favor, você estará bem acompanhado e cheio de si!!!


quinta-feira, 4 de setembro de 2014

BOA NOITE E BOA SORTE

Dispensados do dia, lá vão eles para, Deus sabe onde.
Dispensados do azar, ávidos por sorte, eles vão para além dos limites da imaginação. Libertos, de liberdade vigiada, encarceram-se em cômodos escuros. Uma sonoridade duvidosa os envolve e imersos em líquidos fugazes, se dissolvem em ninguém.
Sem endereços e cheios de adereços, jogam valendo uma moeda estranha, esperando por uma paga que não vem.
O tempo, sujeito a chuva e trovoadas, desmancha o brilho da noite imaginada. A mesma meteorologia é prevista no lado de dentro dos dispensados e opacos no íntimo saem dos cômodos de mãos vazias.
O dia retorna, eles retornam, então, engajados em Deus sabe o que.
Acreditam-se murchos e azarados, cambaleando sob o sol. Focados no movimento de rotação, dispensam a luz que há no dia e o engajamento os dispensa.

Então, quando a lua se compromete com o céu, mais uma vez, pedem a Deus uma boa noite e boa sorte!

terça-feira, 2 de setembro de 2014

A resposta é 42

Como se lida com a dor? Por que ela se repete?  E os desafios, não param? Onde está e o que é felicidade?
“A resposta é 42” (diz Douglas Adam). Ironia bem vinda ao caos da refrega eterna. Afinal, há que haver humor se não, nem com guaraná, desce a vida pela goela. Considerando então, que humor é remédio, vamos tomá-lo.
Se não sabes por que sofres, a resposta é 42. Se ficas frustrado pelo bem que não vem, a resposta é 42. Se tens e no momento seguinte  és mendigo, a resposta é 42.
Pensando bem, é uma boa resposta. Não são 100%, não é a metade, não é tão pouco como resposta nenhuma, zero. Como não se confia no 30, o 40 sai ileso e mais 2 por garantia, temos a resposta exata.
 Então, mesmo que não saibas nada sobre os desígnios divinos, está tudo certo. O plano continua perfeito, e na roda da sorte, em se soltando a bolinha, dá sempre 42.

Boa sorte!!!