sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Que estejamos perplexos, mas não derrotados nem paralisados.

Quando as notícias correm, apressam-se em definir o itinerário da humanidade: morro abaixo, fundo do poço e última parada – apocalipse
De olhos faiscantes e língua solta comunicam céleres, os genocídios e todo um cesto de refugo vergonhoso do planeta. Sem censuras e sem pudores, lá se vão as notícias, desmanchando prazeres e esperanças
Em HD não se ajeitam com a discrição, e parece que é de malvadeza que se especializam em esmiuçar em close caption as rugas, espinhas e cicatrizes do mundo.
A humanidade assiste perplexa sua roupa suja lavada e levada aos quatro cantos pela globalização. Rendida e vendida por tão pouco, tão pavorosamente desnudada, nem mais se reconhece cria do “Criador”.
Mas há uma esperança antes da última parada. A humanidade e as notícias marcaram um duelo ao entardecer. Em digital e tudo, o planeta vai poder assistir.A primeira vai sacar de todo gesto venturoso, valentia humanitária e sensatez. De maquiagem pesada para não causar má impressão.
A segunda, bem, a segunda já não mais tão mordaz, vai usar da velha covardia e de asneiras.Mas, ao entardecer, ela terá um adversário à altura, uma humanidade não mais perplexa nem paralisada e que, certamente, vai atirar primeiro.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Manda pra mim!

Na exclusão da lista, o item renegado era o mais importante. Descartado na lixeira, ele, simplesmente, aquiesceu. Fora relegado e pronto. “C’est la vie”.
A noite chegou, o item não se moveu. No entanto, ela se moveu. Cruzou o corredor quase sem folego. Entrou na sala, pegou a lixeira e sentou-se com a preciosidade nas mãos. Respirou fundo e começou o resgate. Pinçava cada folha amassada com as pontas dos dedos, cuidadosamente, para não desintegrá-la.
O item sorriu. Tranquilo esperou sua vez e ela chegou. Ela o desamassou com carinho, suspirou profundamente e o encostou ao peito. Chorou e chorou. Levantou-se, estendeu-o  e o alisou com ternura.
O item remexeu-se cheio de prazer. Afinal, fora enviado, tinha um destinatário. Ela olhou em volta e constatando a solidão, aproximou a folha de papel do espelho. O item refletiu-se entusiasmado. Ela leu em voz alta: “Amor”!!


quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Beijinhos e carinhos sem ter fim

Como se achegar ao outro se o outro atravessa a via expressa, evitando o encontro.
De que forma apertar as mãos se as outras mãos estão de punhos fechados.
Por que caminhos trilhar até o lar vizinho se todas as grades sonegam um cumprimento.
Como pedir um abraço se os braços estão algemados pelas costas e encurvado, o outro amedrontado diz “não”.
Por que tréguas conseguir que as guerras façam as pazes com a paz se a guerra é amiga do medo e inimiga da fraternidade do afeto.
Como conseguir ser solidário e deixar de ser solitário se o “dente por dente” é a lei do mercado.
Por quais ares poder-se-ia ser alado e ver, bem do alto, toda harmonia do mapa da agonia. Enxergando assim, a estatística minguada do mal e do fel e as grandes áreas do leite e de mel.
Quando, um pedido de abraço encontrar o ser alado que viu a Terra por cima, por certo será atendido. O medo, minguado, dará lugar ao que no mapa corresponde a grande área de estima.
Por isso não desisto.
Pode me dar um abraço?!!!


terça-feira, 19 de agosto de 2014

O troféu

Hoje é dia de festa, é dia de comemoração. Comemoramos nossa vitória e levantaremos nosso troféu, o trem.
Comemoramos o retorno da chama de estarmos comprometidos com os presos no vão das plataformas ferroviárias.
De estar compromissados, a tempo e a hora, com a grande família universal, em wi-fi, que se conecta em qualquer lugar onde houver rede e necessidade.
E mesmo que não sejamos super-homens, elevamos do chão, o mais pesado, no ar.

E a plenos pulmões mostramos aos nossos corações que: “Eu posso amar”.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Ziguezague e pow! (Sexta-feira negra, depois passa)

É inútil me fazer ver a vida por um prisma melhor. E dizer que – “pode apostar”. Hoje é noite, daquelas que dura, não há dia. Nada daquele axioma de que não existe noite e o fato é que a Terra dá a outra face para o sol. É esta mesma a questão, dar a outra face, parece que ninguém quer. É tanto “olho por olho”.
Não vai adiantar fazer crer que quem faz a beleza são os olhos de quem vê. Nem esperar que o melhor esteja por aí, porque eu não vou achar, nem procurar.
Não surtirá efeito, Beatles, nem Vivaldi, nem champanhe. Nada desce, a garganta deu um nó.
“Falar com Deus”? Nem pensar. Afrouxar, relaxar e ziguezaguear, não, não e não!!!
É noite, para sempre e só.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O corpo

O corpo amortalhado e sereno. Muitas vozes, muitas vozes ressoavam no recinto, não as dele, do corpo, mas de outros corpos com bocas e ouvidos atuantes.
Muitas opiniões, muitos rótulos, muitas ideias sobre ele, o corpo, amortalhado, mas, não mais sereno.
Ouviu tudo! Não sabia como, mas, ouviu e permaneceu quieto e imóvel. Muitos corpos debruçavam sobre ele, o corpo não mais sereno. Muito choro, lamentações e ele, o corpo permaneceu imóvel. De tantos e tantos corpos aglomerando-lhe em volta, cansou-se, abstraiu-se e retirou-se das críticas e dos planos.
Permanecia deitado imóvel, mas leve, muito leve, agora. Na verdade, o corpo flutuava, e as vozes iam ficando longe e mudas e emudeceram de vez. Entretanto, um novo som chegava delineando-se, uma música, sim, uma música só instrumental, Let it Be. Não sentia incomodo algum, nem medo, nem raiva, deixou-se, então, flutuar bem acima daquela caixa, daqueles corpos. Enrijeceu-se de súbito, mas não parava de subir, então desejou voltar, descer para o aconchego das críticas, dos planos, dos rótulos, de tudo. Pairou, outra vez, em silêncio no recinto.
Agora era ele que se debruçava sobre os outros corpos com bocas atuantes. Debruçou-se de pilhéria, sem que risse, nem com a boca nem por dentro. Colava-se, imiscuía-se  entre dois corpos outros, só não mais se aproximou da caixa.
Num dado momento, ainda sob o influxo de Let it Be, definitivamente, o corpo abstraiu-se do recinto, da caixa, dos outros corpos, e ninguém, ninguém soube para onde.



quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Brand new

Everything, with the passage of time, becomes new, not old.
Stars, the moon, days resemble rotine, but are really, fresh new. There’s novelty all the time in minutes, in seconds, in time.
Feelings seem to be tired, ancient, but sparkle from a new angle when they’re closed observed.
People, frequently, introduce themselves with the same name, seem to be old friends, but rather, they’re others, they’re new.
Coming and going to the job, steps, behavior, and deeds are repeated again and again, but only on the surface, it’s new, deep inside. Everything with the passage of time is always, brand new.
Nevertheless, it’s need not to be tired or hopeless. It’s need not to rock the boat. Not to cry over the spilt milk. Go shopping, picking up inside each person, each response, each time of year, each check in.
Purchase, look into, and stare at. It’ll be very ease, you’ll find, to see a new glow, a new adornment and a new response.
And do not give me that: “not teach an old dog new trick”.





Tudo novo de novo

Parece rotina os dias, as estrelas, a lua, mas é tudo novo.
Tem novidade o tempo todo, nos minutos, nos segundos, nos tempos.
Os sentimentos parecem cansados, antigos, mas brilham num novo ângulo, basta inspecionar.
As pessoas se apresentam como as mesmas, ledo engano, a cada segundo, são outras, são novas.
Indo e vindo do trabalho, os passos, o jeito, o feito parece repetido e repetido, mas é só na textura, no amago é novo.
É sempre tudo novo de novo, é preciso não cansar. Não entregar os pontos. Não entornar o caldo. Não chorar sobre o leite derramado.
Vá às compras, olhe as vitrines de cada gente, de cada emoção, de cada estação, de cada estadia. Pechinche, averigue, perscrute. Vai ser fácil, você verá, achar um novo brilho, um novo adereço, um novo apreço.

E não me venha com essa: “Não se ensina truques novos a cachorro velho”.

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Thor

Ele estava sentado em uma das cadeiras do Banco, daquelas em que se esperava ver um idoso. Era um menino de uns doze anos, tipo nórdico. Alto, magro, cabelos castanho claro liso. Não muito compridos, não lhe emolduravam o rosto, não, várias pontas, mas encobriam a testa e as orelhas.
Estava sentado olhando para a televisão, quase como se não estivesse ali. Plácido, sua presença era leve. A maquininha da senha continuava chamando mais um, naquele tom de meia nota musical.
O burburinho das vozes queixosas se misturava ao som das senhas, quando a mãe do menino aparece. Com ela vem outro menino pequenino de uns seis anos, de óculos e um aparelho de surdez nas orelhinhas. A mãe diz para o menino de doze anos: Thor! Toma conta dele, chegou a minha vez.
Thor levanta, suavemente, e vai ao encontro do irmãozinho.                                            
A vida tem dessas coisas, tudo parece tão feio, triste e insano, principalmente nos Bancos. Tanta gente ávida para pegar seu quinhão, tornando-se tão intolerante e agressiva. Reclamam da demora, dos caixas, do Banco, da gerência e de tudo. No fundo, são pessoas carentes de algo imaterial que as proteja.
 Então, vez por outra, um Deus ou um super-herói aparece para salvá-las. “Thor! Toma conta dele”. E Thor, em pessoa, toma conta de seu irmãozinho e dos outros seus irmãos da Terra.