terça-feira, 30 de junho de 2015

Nosso reino é assim

Território sagrado. Nosso reino é assim, mesmo que não saibamos de sua coroa brilhante nem de seu halo santo.
Mesmo que façamos tanto as malas e o deixemos pra balneários plebeus.  Mesmo que tomemos seu nome em vão apelidando-o no diminutivo, sem nenhum respeito.
Território sagrado onde “em se plantando tudo dá”, e ainda que se lhe tire todo fruto, todo ouro mais fecundo e generoso se apresentará.
A alquimia é de seu tempo e dela não é mais um aprendiz. “Gigante pela própria natureza”, em seu jeito Cord tem lugares nunca dantes visitados e mares jamais navegados.
Nosso reino é assim, território ilustre, ilustre desconhecido. Abandonado e renegado como “persona non grata” no seio de seu próprio clã.

Um reino de súditos cegos e coxos que não veem e não vão ao deslumbramento de tanto, até que um dia, qualquer aventureiro, dele, lance mão.

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Lugar nenhum

O vírus “lugar nenhum” se auto instala e achando memória suficiente começa a rodar com grande facilidade.
Corrompendo outros programas, como um buraco negro deixa um vazio escuro e assombrado em sua máquina.
As imagens criativas mais auspiciosas dos PP - destino – “lugar nenhum”. Os Blogs de interesse público, realmente interessantes – destino – “lugar nenhum”. Os sonhos inexoráveis, na pasta do Word – destino – “lugar nenhum”. E finalmente, qualquer e toda iniciativa encantadora para mudar o mundo, espalhada na rede, o vírus peçonhento devora.
Experts em computação não chegaram à conclusão alguma de como bloqueá-lo ou desinstalá-lo. Boquiabertos e de mãos atadas permanecem em lugar nenhum.
Certos pronunciamentos governamentais, divulgados em rede, bandeiam-se para um gesto desesperado: -“Apagar o grande satélite de nossa aldeiazinha global e na reinicialização, quem sabe”...
Neste fim de filme chamuscado e mal editado, parece que entrou em cena um tipinho muito nerd e bastante conhecido na Aldeia e fora dela. De túnica e cabelos longos, bastante démodé pro gostinho oficial, aparece e levanta a lebre; reza o concílio.
Diagnosticou que como “lugar nenhum” ocupa a memória disponível é mister não deixar memória desocupada. Encha-se a máquina de utilidade pública, utilidade humanitária, utilidade de certas inutilidades amenas. “Com toda essa memória ocupada com coisa que o valha, a tribo está salva” – disse ele.



terça-feira, 23 de junho de 2015

Devidos dividendos

Qual a parte que te cabe?
 Qual a parte que me cabe?
Partes estabelecidas com prazos e cifrões, quais são?
Se me cabe, ai de ti. Se te cabe ai de mim.
As porcentagens que me cabem estão em alta, as suas despencaram no abismo das ações baixas.
“Oh me, me mine” era só o que via Lennon.
Não se enxerga devidos dividendos, devidamente divididos.
 Há muitos dias nublados e o vento norte dissipa toda divisão.
 Os melhores dias, lá se vão.
 Os dias de hoje continuam como são: cifrões, contas abastadas exteriorizadas.
Minhas ou suas? Não se sabe, não.

Na verdade fica tudo como dantes, tal e qual: “oh me, me, mine”.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Basta

O pouco que cabe parece que não basta. O superficial saber, basta. O peso nas costas –“já basta”.
Pressões, prisões, reclamações, encenações, escoriações: Basta, basta!
Dentro, na cadeia do muito, o peito clama por mais. Fora, no mundo, muitas vezes, o mais não vem. Do que era pouco, ainda mais parece ser tirado.
E toma-lhe solidão, mudez, carrancas e, por incrível que pareça, a mais ingênua e inapropriada esperança.
Fora de hora, fora de esquadro. Uma desesperada esperança “invade e fim”.
E a cada passo, apressando o passo, a boca se abre.

E a tudo que atrapalha a felicidade, grita: “Basta”!!!!

terça-feira, 16 de junho de 2015

Pense nisto

Todo mundo, eu você, é um empreendedor de um pequeno negócio.
“Penso, logo existo” lembra? Descartes estava certo, e nosso negócio é pensar.
É um negócio de risco, bem o sei, mas o lucro assegurado é existir.
Como quem pensa existe e desse negócio não se desiste, acho melhor investir. Pode-se começar com pouco, não é preciso quantia vultosa. Gerenciar bem o pouco, no entanto, é mister, para que a quantia não vire nada.
Escolha com esmero um bom ponto. Nos domingos e feriados, nada de loja fechada.
O estoque deve ser sempre arejado, e mantenha os itens mais pedidos nas fileiras limpas e da frente. Cuide pessoalmente de toda contabilidade. Ativo, passivo, despesas e receitas tudo cadenciado.
Administrador? Você mesmo, não deixe a firma nas mãos de ninguém.
A demanda de mercado é importante, mas também, necessidades e pedidos bem mais avançados.
Deste negócio não se abre falência, não se fecha pra balanço e para bom lucro – trabalho dobrado. Dia e noite, noite e dia, prevenir para não remediar.
Cansado? Mas o negócio já foi fechado. Resta-nos, esconjurar “tempos de vacas magras”, sobrepujar as expectativas de déficit e lucrar com a vida, porque existir é preciso.
Pense nisso.


quinta-feira, 11 de junho de 2015

Pelo sim, pelo não.

Urge arejar.  Deixar ventar um vento corajoso.
 Sóbrio, varredor de toda folha seca de dentro de sua cabeça.
Faz-se necessário levantar, e espiar na porta do porão de pensar.
Dar uma boa espiada de peito aberto e mente escancarada. “O que tem aí”? Perguntar a plenos pulmões.
Carece concatenar ideias. Polir as que prestam, como a prataria da casa. Reservar as não muito brilhantes para dias sem festa.
É imprescindível editar as películas com pensamentos. Priorizar os nobres e ventilados, fazendo-os sincronizar com as legendas.
Há que se dar mais ação à inspiração. Há que se pensar em pensar, fazendo.
Subordinadas subjetivas à parte, fique certo de que de toda essa argumentação depende sua saúde mental.
Assim sendo, pelo sim pelo não, guarde esta pocket crônica e sirva-se dela quando a paz acabar.


terça-feira, 9 de junho de 2015

O pato

“Pagar o pato” não é depois de comprá-lo para o jantar.
Em verdade, é quando jantaram você. Outro fez errado, erraram a pista e, vejam só, a autoria é sua.
 –“Se, pelo menos, não saíssem antes de trazerem a conta”. O dever de colocar tudo em pratos limpos agora parece tão coerente. Saber o pato que te cabe.
A conta, não se assuste, vai ser uma pechincha. Claro se o jantar não for de magnata e se antes da sobremesa, você chamar o garçom.
Não entender do menu no jantar da vida, vá lá, mas sair pedindo qualquer prato...
Concentre-se, faça curso de línguas, de gourmet, vá a vários jantares. Especialize-se ou vai acabar pagando por “pato”.


quinta-feira, 4 de junho de 2015

... O momento é que se aproveita de nós.

Como dizer não para o agora? Como fechar a clara visão do “se não for naquele instante nunca mais será”?
Pensamos em tomar decisões, as decisões é que nos tomam. Pensamos em aproveitar o momento, o momento é que se aproveita de nós.
De toda sorte, ou estamos sem sorte, ou a sorte está conosco. E assim mesmo, achamos estar no comando.
Quebramos a cabeça decidindo entre dizer sim ou não.  Achamo-nos sem um canto. Então decidimos levar tudo a ferro e fogo.
-“Ou é do meu jeito, ou nada será feito”. Ledo engano.
Aí é que as coisas se fazem e até ficamos sem jeito. E vem um momento que não controlamos e outro atrás de outro.
A vida não fica num canto. Nem nós. E o momento vem e se aproveita de nós e é tão bom!


terça-feira, 2 de junho de 2015

A paz

Esperava ter paz, alguém lhe havia garantido. Esperava ter mais, mas não tinha garantias.
Sobre a paz, vinha-lhe a imagem de quem prometera. Queria tanto o presente, e não lhe satisfazia tanto “cavalo de Tróia”.
Juntava-se ao bando que reivindicava a dádiva. Vestia-se de branco e ia para as praças. Armava-se de esperança e de pombos a voar.
Ia que ia, buscava que buscava, batia e nada de “abrir-se-vos-á”.
Um dia, insatisfeito, com a mochila cheia de desencanto, amolecendo-se ao sol, teve um estalo. Como apanhá-la, como, não a perder, agora sabia de que consistia a promessa.
Sem alvoroço, soube que era só não ficar inquieto sobre o beber, o comer, o governar o mundo. Que era menos sobre ter, sobre o seu, o meu e mais sobre o nosso.
Pegou o presente, engoliu-o e ficou quietinho, cheio de paz.