quinta-feira, 14 de maio de 2015

Um tiro no escuro

Ele achava que havia muito a ser dito, muito antes, hoje não. Já havia dito tudo, se enganado demais e frustrado fragorosamente.
Passou a gostar do silêncio. Palavras não ditas, melhor assim. Nem se apresentava mais. “Fulano de que”? Suprimiu a foto do face, desfez o twitter,apagou o falatório.
Emudeceu e nada de Libras. Pensamentos no sótão, adendos no porão e tudo no escuro.
Quiseram saber por quê? Agora queriam ouvi-lo, mas era tarde demais.
Uma tarde, começou a sentir-se sufocado. As palavras se agitaram e queriam transbordar-se do peito. Saiu trôpego, da penumbra da sala. Seu destino era o escritório, mais precisamente, o laptop. Tinha que vir à tona, ou estaria perdido. Afogado, engolfado em ideias, um som oco o fez tremer. Fora o tiro de misericórdia, seu coração não aguentou.
Debruçado por sobre o blog, palavras lhe jorravam da boca. Ter, não ter, não ser, continuar, face to face, pedir, interceder, esclarecer, perdoar, doar, morrer.
Agora, já não mais podia, mas havia tanto a ser tido.


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