terça-feira, 14 de julho de 2015

Os últimos serão os primeiros

Ajeitam-se na fila como podem, contendo a insânia. Respeitam-se a meia boca. O vale tudo está lá nas prateleiras. E lá se vão os homens, sedentos de coisas, não de água.
A fila anda engasgada, serpenteando, se fazendo de besta, tão grande, tão poderosa. Guardando o troféu lá na frente.
E lá se vão os homens, acotovelando-se. Atentos para que ninguém lhes passe a frente.
A aflição cresce, cheia de si, dentro deles. Eles cheios de aflição para que lhes chegue a vez. A vez de conseguir o que foram buscar. Cada minuto de espera exala mil memórias, conjeturas.
E se isso... E se aquilo...
 E lá se vão cheios de fome de poder, não de pão. O coração vai também, aos saltos, irritado e ansioso. Quanto mais por último, mais desesperançoso.
Então nos últimos lugares, o tal desalento faz um milagre. Os homens estancam, e com ele no peito, deixam de arfar.  “Pra que fustigar”? “Por que disputar”?
 Não querem mais as uvas, estavam verdes mesmo.




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