terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Síndrome de Estocolmo

Ela foi sequestrada. Desligada da ambientação amada. Calada, ameaçada e foi pouco a pouco tecendo admiração.
Mudou de lado, quis ficar do lado do sequestrador, um deus que podia lhe tirar tudo ou tudo conceder. Escolheu não ser machucada. Confusão por confusão, pinçou a aventura e não a rotina.
Olhara bem nos olhos de quem lhe oferecia o pão, na cela, com uma das mãos e com a outra lhe atava a mordaça. Jamais esqueceria os olhos, jurou, mas esqueceu.
Um dia, aparentemente, novos olhos a seguiram. Fingiam, tramavam e capturavam. Ela cedeu, aprisionou-se, concedeu.   Noutro dia, os reconheceu, eram aqueles mesmos olhos, torturadores, sequestradores, e ela emudeceu.
Alguma coisa estranha se passava em suas entranhas, uma náusea, um medo e ao mesmo uma vontade de ficar, de comer à mesa, de dividir o pão.
Ia definhando, já não queria comer, já não queria ficar, mas, estranhamente, não conseguia correr.
Atada, amordaçada, vendada longe de toda afeição de verdade, só, com um carinho pré-moldado, fictício comprado em liquidação, mas não conseguia correr.
Quando dormia tinha um sonho: uma porta escancarada, uma longa estrada. Quando acordava, cansada e com a circulação agitada, percebia, no sonho, ela conseguia!!!


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