quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Matem o mensageiro

Levando boas novas, uma bandeira branca ou mesmo entradas francas, o mensageiro corre riscos. Pode ser crucificado.
Mesmo com fala mansa, frases certas e voz modulada, o mensageiro segue com o perigo na dianteira. Pode ser envenenado.
Embora nunca interrompa, pise bem devagarinho, a ameaça se antecipa. Pode ser silenciado.
Prepara que prepara, prevendo feedback, ajusta a conversa, mesmo com causa boa e justa, a mira de tiro está a rondá-lo. Pode ser trucidado.
Cheio de boa vontade, com olhos de utopia, com mãos de devolução, com ombros largos, lá vem o mensageiro. E que dó nos dá.
Um ébrio avant guarde, na corda bamba.
Equilibrando-se nos sonhos, pés no fio da navalha, caminha o mensageiro sem nenhum temor por seu fim iminente.

E os que vai socorrer, indenizar pela vida parca, já gritam, mal o pressentem: “matem o mensageiro”, antes que seja tarde, antes que saibamos o que quer dizer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário