terça-feira, 8 de novembro de 2016

O suficiente

Ele procurou nas gavetas, abriu todas sem voltar a fechá-las.
Escavou por entre as roupas do closet, buracos profundos. Espalhou livros, revistas, caixas, cantos.
Em meia hora, não havia mais lugar secreto e os segredos foram todos revelados.
Se bem, que alguns tentavam encobrir-se.  Sem sucesso, tornavam-se gatos escondidos com o rabo de fora. O que ficou bem claro, sem subterfúgios, em meio a toda exposição de muito, era a escassez de um único algo vital.
Tudo bem, certamente lhe ocorrera a máxima “o que você não tem, você não precisa”.
Ele, entretanto, teimosa criatura, prostrou-se no meio do quarto, sentado no nada. Mão na testa e cotovelo no joelho.
 Sobre a mesa castanha, no canto da janela, o caderno aberto resistia em seu posto. A caneta âmbar, com folhas mergulhadas em seu ventre, permanecia a postos em apoio.
Um vento forte, supervisor de sonhos, instigava os segredos e o caderno a se rebelarem.
A criatura levantou-se, incomodado com o farfalhar das folhas brancas, pegou a caneta com desdém, sentou-se à mesa castanha e desandou a escrever.
O vento silenciou. Os cantos e segredos relaxaram, enfim a criatura encontrara o suficiente.


Nenhum comentário:

Postar um comentário