quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Comunicação

- “Que as partes se pronunciem” disse o juiz. Pronunciaram-se, mas tão confusos eram os pronunciamentos, que o juiz não ajuizava.
“Nunca se justifique ou se lamente” diz o ensinamento, mas o que fazer quando em juízo.

Persistia, naquela tarde, a Babel da lamentação e da explicação. Não havia intermediários.Promotor e defensor eram os dois, eles próprios, réus confessos. E quanto mais falavam, mais se viam postos em prisão.

O sol já tinha se posto e as partes sem língua pátria, sem interpretes, advogando em causa própria, não se entendiam, nem se faziam entender.

O juiz, então declarou a sentença: “Culpados”. Culpados por não se amarem. Culpados por não dar a outra face. Culpados por se culparem. Por não haver desculpas para a falta de comunicação. Por não comunicarem o perdão. Por não falarem de afeição. Por não deixarem claro que só há uma intenção em toda comunicação— ser entendido. Ter o atendimento da aprovação.

E a pena? A pena era a morte.


Morte às amizades, ao bem-querer, ao chá da tarde, ao cafezinho. Aos belos pronunciamentos de Ghandi, de Mandela e do rei Salomão. Morte a mim e a você, a qualquer um que do amor não dê nenhuma comunicação.

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