sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Idas e vindas

 O guarda chegou correndo, anunciando um parto na esquina.
A parturiente deitou-se na soleira de uma loja e o pequenino vinha vindo.
O enfermeiro da clínica pegou os apetrechos e deslizou para o local. Voltou uma hora depois, cheio de júbilo e manchas de sangue.
O pequeno chegou, cheio de ânsia e de medo. Em silêncio, primeiro, e gritando, depois.
Chegara a este mundo! Espantado ouvia e via tudo. Viu a ambulância e foi colocado dentro dela. Ouviu um barulho esquisito: “seriam trombetas anunciando sua vinda”?
Enroscado em panos e aconchegado àquela mulher. “A mãe”, lembrou-se dela. Já tinha visto antes aquele semblante, mas, onde? Quando? Esforçou-se para perguntar, mas ninguém respondia. Esforçou-se, então para lembrar sem perguntar, lembrou-se.

Uma vez, tinha vindo, ido e agora, estava de volta. Sentiu medo e enroscou-se mais e mais àquela mulher. Passou a não pensar nada, limitou-se a escutar. E escutava as trombetas, por que tanto alarido? Sem respostas ou afazeres, aquietou-se, aceitando o desembarque para lugar ignorado. Aconchegou-se à mãe e mamou.
(Homenagem ao Hilton, gerente da Gonçalves Sobrinho)

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