sexta-feira, 25 de julho de 2014

O único mal irremediável

E se aprontaram para o Auto.
Jesus estava lá, e lá estava, também, “aquele que não se pode pronunciar o nome”. Chegaram os contadores de histórias. “Aquele que não se pode pronunciar o nome” ajeitou-se, empertigou-se como se a pensar: “hoje é meu dia de sorte”. Acreditava ele que contar histórias era o mesmo que mentir, e como quem mente vai para o inferno... Esfregava as mãos de puro contentamento.
Jesus que conhecia a verdade estava impávido, tranquilo e infalível. Os contadores de história tinham causa ganha, bem o sabia, não precisaria lançar mão de sua santa mãezinha.
Ariano, o contador de histórias de Autos, estava lá, também. Havia se encontrado com “o único mal irremediável que une tudo que é vivo no mesmo rebanho de condenados”. Via se repetir, em frente a seus olhos, a mesma história que um dia contara e pensava consigo que não daria gosto ao “coisa ruim”, nem convocaria a Santa, como conciliadora. É bem verdade, que estava um tanto perplexo diante de sua criatura. Intimamente, ansiou por João Grilo que saberia como lidar com aquela situação. Até mesmo, desejou ter a mesma sorte do “amarelo safado”. Suou frio, um pouco, não falou quase nada, mas ouviu muito de uma história bem parecida com a que havia criado. Cabeça baixa, coração aos pulos que “quase iam pros pés”, aguardava ansioso a sentença final. No final, tudo deu certo. Ficou sabendo que faria parceria com Grilo na Terra e que ia poder viver mais “umas cem vezes”, como disse desejar em uma entrevista.
Jesus se deu por satisfeito. O “outro” por furioso ao saber que um contador de histórias, inventor de Autos não são mentirosos não. São aliviadores de dores, acalentadores de corações. Merecem o céu, a vida, e nunca irão para o inferno.




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