quarta-feira, 4 de maio de 2016

Porque os pássaros não escrevem suas memórias

Pés no chão, cabeça não nas nuvens. Olhos em riste, em guarda. Ora para frente, ora para baixo.
Esses são os homens. Cheios de memórias. Memórias de pedras, de obstáculos, de atoleiros e de abismos. Do que era pra ser, do que não foi dito, do que não se deu e de ser esquecido.
Lembranças malditas do cara a cara, do dar de ombros e do dar as costas. Um simples toque e o rés-do-chão emerge.
Dominando a escrita pelos idos do ano 3000 a.C., escrevem anamneses amargas.
Já os outros, outra espécie, alados, tocando o chão em raríssimas ocasiões, conhecedores de toda copa de árvore e de plainar sobre as nuvens não escrevem. Não gozam de liberdade vigiada. Não juntam em celeiros. Não têm cérebro avantajado. 
Voam e cantam isso sim. Aceitam todas as estações e ocasiões.

Completamente baldos de amargor, não têm nada a declarar.  

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