Ela foi
sequestrada. Desligada da ambientação amada. Calada, ameaçada e foi pouco a
pouco tecendo admiração.
Mudou de
lado, quis ficar do lado do sequestrador, um deus que podia lhe tirar tudo ou
tudo conceder. Escolheu não ser machucada. Confusão por confusão, pinçou a
aventura e não a rotina.
Olhara bem
nos olhos de quem lhe oferecia o pão, na cela, com uma das mãos e com a outra
lhe atava a mordaça. Jamais esqueceria os olhos, jurou, mas esqueceu.
Um dia,
aparentemente, novos olhos a seguiram. Fingiam, tramavam e capturavam. Ela
cedeu, aprisionou-se, concedeu. Noutro
dia, os reconheceu, eram aqueles mesmos olhos, torturadores, sequestradores, e
ela emudeceu.
Alguma coisa
estranha se passava em suas entranhas, uma náusea, um medo e ao mesmo uma
vontade de ficar, de comer à mesa, de dividir o pão.
Ia
definhando, já não queria comer, já não queria ficar, mas, estranhamente, não
conseguia correr.
Atada,
amordaçada, vendada longe de toda afeição de verdade, só, com um carinho
pré-moldado, fictício comprado em liquidação, mas não conseguia correr.
Quando
dormia tinha um sonho: uma porta escancarada, uma longa estrada. Quando
acordava, cansada e com a circulação agitada, percebia, no sonho, ela
conseguia!!!
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