“Tudo é uma ilusão”. Constatou o
etílico, depois de ver muita coisa em duplicidade.
Uma dupla esquina. Uma dupla de
amigos. Uma dupla solidão. Uma jogada dupla. Um duplo fracasso. E um dublê de
si mesmo. Seu duplo não vomitava, nem chorava. Seu duplo estava sóbrio e
distinguia bem uma saída. Traçava planos com rapidez e os tinha duplos. Para o
caso do tão necessário plano B.
O ébrio, cheio de esperanças,
olhava sua cópia nos olhos com muita atenção. Prestigiava os gestos do tal, e
principalmente, ouvia, distintamente, seus argumentos. Ficou pasmo com tanta
precisão. Era tudo que ele precisava ouvir.
Um contentamento tamanho lhe brotou no peito.
Ajeitou-se, aprumou-se. Desejou,
ardentemente, ser o outro.
Fechou os olhos para realizar seu desejo. Tudo
rodopiou dentro dele. A esquina, os amigos, a solidão, a jogada, o fracasso e
seu duplo giraram e se misturaram como num caldeirão.
Abriu os olhos e a poção o havia
transformado. Era ele mesmo, não tão espirituoso, não mais descolado, ainda não
sóbrio, mas completamente lúcido.
Num golpe de dupla vista
distinguiu o que queria e viria a ser e não, necessariamente, permaneceria “tudo
ilusão”.
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