- Alô, quem fala?
- Sou eu.
-Eu quem? Desligo a
coragem acabou. De convidar para um lanche. De inventar alguma coisa, para
esconder que queria falar com amor.
“Eu quem?” Ninguém, sou eu ninguém. A recusa da identidade
amorosa dói tanto.
Seu irmão querido não te identificou, então não vem. Para o
amigo tua voz soou estranha.
“Tem duas ligações entrando, quem está falando mesmo”? Diz teu parceiro.
Toco as teclas, indecisa, enquanto elaboro uma desculpa por
ter ligado. A memória das recusas e dos senões tecla em mim.
Os dedos ficam cada
vez mais lentos e a discagem não continua.
Ando pela sala repassando as coisas do amor. Não consigo
achar nada de errado em ligar.
Não vejo intromissão, não distingo pieguice, não sei como
amor pode atrapalhar.
“É uma questão de respeitar o tempo do outro”. Eu cá comigo-
“é mesmo”?
Ando pela cozinha. “Será que amanhã será melhor dia pra
ligar”? Será que não precisarei me apresentar. Minha voz será logo reconhecida,
quando disser sou eu?
-“Sim, que bom te ouvir”, do outro lado da linha. Amanhã,
talvez amanhã.
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