Ele procurou nas gavetas, abriu
todas sem voltar a fechá-las.
Escavou por entre as roupas do
closet, buracos profundos. Espalhou livros, revistas, caixas, cantos.
Em meia hora, não havia mais
lugar secreto e os segredos foram todos revelados.
Se bem, que alguns tentavam
encobrir-se. Sem sucesso, tornavam-se
gatos escondidos com o rabo de fora. O que ficou bem claro, sem subterfúgios,
em meio a toda exposição de muito, era a escassez de um único algo vital.
Tudo bem, certamente lhe ocorrera
a máxima “o que você não tem, você não precisa”.
Ele, entretanto, teimosa
criatura, prostrou-se no meio do quarto, sentado no nada. Mão na testa e
cotovelo no joelho.
Sobre a mesa castanha, no canto da janela, o
caderno aberto resistia em seu posto. A caneta âmbar, com folhas mergulhadas em
seu ventre, permanecia a postos em apoio.
Um vento forte, supervisor de
sonhos, instigava os segredos e o caderno a se rebelarem.
A criatura levantou-se, incomodado
com o farfalhar das folhas brancas, pegou a caneta com desdém, sentou-se à mesa
castanha e desandou a escrever.
O vento silenciou. Os cantos e segredos relaxaram, enfim a
criatura encontrara o suficiente.
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