Era de cedro, novinha. Não
rangia, não batia nem emperrava. Brilhava. A maçaneta de cobre a toda mão se
adaptava.
Abria, o homem saia e ia se
embriagar. Fechava, depois que o filho entrava doido pra descansar.
Abria, a empregada saia e ia se
libertar. Fechava, depois que o neto chegava e ia a casa alegrar.
Abria, a avó saia e ia presentes
comprar. Fechava, depois que a filha entrava e ia pro quarto chorar.
Abria, todos os amigos entravam,
para lá dentro, festejar. Fechava, depois que todos chegaram para a alegria ficar.
Um dia, abrira e ficara
escancarada, sem mais abrir e fechar. Abrira e todos saíram, um, para nunca
mais voltar. Ficou todo dia entreaberta e à noite, veio a fechar, depois que
todos entraram, para manter a tristeza lá. No dia seguinte, sem mais abrir e
fechar, não via o sol nem a lua e esperou vários dias, pra voltar a trabalhar.
Abandonou a alegria e passou a
desenvernizar, a maçaneta enferrujou, desistindo de brilhar. Mas, depois de
algum tempo, um homem esteve por lá, fez ajustes fez acertos e a porta voltou
ao velho ofício.
O sol deu uma espiada, a lua ficou contente, e
a porta, a porta resplandecente, continuou reverente à sua missão de fazer sair
e entrar toda gente.
(Humilde homenagem-lembrança ao “poetinha”,
Vinícius de Moraes).
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