- “Que as partes se
pronunciem” disse o juiz. Pronunciaram-se, mas tão confusos eram
os pronunciamentos, que o juiz não ajuizava.
“Nunca se justifique ou se
lamente” diz o ensinamento, mas o que fazer quando em juízo.
Persistia, naquela tarde, a
Babel da lamentação e da explicação. Não havia
intermediários.Promotor e defensor eram os dois, eles próprios,
réus confessos. E quanto mais falavam, mais se viam postos em
prisão.
O sol já tinha se posto e as
partes sem língua pátria, sem interpretes, advogando em causa
própria, não se entendiam, nem se faziam entender.
O juiz, então declarou a
sentença: “Culpados”. Culpados por não se amarem. Culpados por
não dar a outra face. Culpados por se culparem. Por não haver
desculpas para a falta de comunicação. Por não comunicarem o
perdão. Por não falarem de afeição. Por não deixarem claro que
só há uma intenção em toda comunicação— ser entendido. Ter o
atendimento da aprovação.
E a pena? A pena era a morte.
Morte às amizades, ao
bem-querer, ao chá da tarde, ao cafezinho. Aos belos pronunciamentos
de Ghandi, de Mandela e do rei Salomão. Morte a mim e a você, a
qualquer um que do amor não dê nenhuma comunicação.
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