Fico pensando se só eu tenho um
gárgula em casa. Se essa figura detestável, que assombra os filmes, os beiras
dos castelos, habita só no meu lar. E concluo decidido que não. Um gárgula para
cada lar é ipso facto.
Se o dia amanhece bonito, ele desloca-se
irritado e sai voejando com suas asas desajeitadas e seu aspecto lúgubre de
poucos amigos. Se o dia está nublado ele concorda e se posiciona no meio de
algum cômodo, sentado e em paz com cara de dono da situação.
De ordinário, salta pra lá e pra
cá, impondo sua cara feia em meio a qualquer vislumbre de nossa alegria. Impede
a passagem quando decidimos alguma coisa nova com suas asas escuras.
Como classificá-lo para
exterminá-lo? É um inseto, um animal, uma escultura, o elo entre o anjo e o
demônio ou uma miragem? Que espécie nova de spray daria cabo dessa fera?
Sabe, sob o costume de seu
manquejar, mancamos também, desalentados vez em vez e quase sempre. Sob o
impulso de suas asas tolas nossos voos são débeis tentativas de sair do solo,
ao qual voltamos sempre, com certo estrondo.
Que espécie de dedetização
acabaria com essa peste? Não sei, quanto mais penso, tenho que encarar o fato de
que ter um gárgula em casa, já é uma epidemia. O governo deveria tomar alguma
medida na área da vigilância sanitária, uma vacina, talvez.
Mas quedo em desânimo, pois o
governo está sempre escondendo os índices de epidemia, e a ciência inventa
sempre um composto que resolve uma coisa e estraga a atmosfera. Portanto, o
jeito mesmo é usar a vassoura.
De vassoura na mão me movo na
tentativa de espantar a criatura, que vai mudando de lugar a cada vassourada.
Qualquer dia desses, ele se desloca para a porta e num último cutucar... Quem
sabe?!!!
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