Sujeito a chuvas e trovoadas, assim estava seu coração. Um
aguaceiro já lhe inundava o colo, enquanto ela se afogava em palavras.
Palavras não ditas, mas repassadas por entre os olhos.
Repetidas, visíveis e doloridas, tudo ao mesmo tempo.
Quisera não existir, e a memória, também. Quisera ser salva
por tudo de bom que estivesse no porão. Que a meteorologia fosse insciente e
memórias fossem feitas de boa fé.
Entretanto, estava ali, nadando contra a correnteza e sendo
engolida por uma baleia azul.
De nada adiantava ter vencido os trezentos metros rasos, ter
um eco cardiograma invejável, nem ser bilíngue, era o fim.
Lembrou-se, então, que uma imagem vale mais que mil
palavras. Projetou um lindo céu azul, um bote salva-vidas, seu artista
favorito, uma maça, e começou a reescrever suas memórias.